Medidas anunciadas pelos EUA não vão proteger baleias ameaçadas de extinção
Setembro 17, 2021
O Serviço Nacional de Pescarias Marinhas dos Estados Unidos divulgou uma regulamentação final, há muito esperada, que tem como objetivo reduzir o risco de que a baleia-franca-do-atlântico-norte, espécie criticamente ameaçada de extinção , se enrede em equipamentos usados na pesca de lagosta e caranguejo no país. A Oceana avalia que as medidas não são suficientes para proteger as baleias.
“Depois de quatro anos formulando a regulamentação, é desanimador ver que, apesar da obrigação legal de defender a baleia-franca-do-atlântico-norte e ajudá-la a se recuperar, o governo mais uma vez deixou de tomar medidas vigorosas”, disse a diretora de campanhas da Oceana nos Estados Unidos, Whitney Webber. “A baleia-franca-do-atlântico-norte está cada vez mais perto da extinção devido a riscos conhecidos, causados pelo homem, incluindo o enredamento em equipamentos de pesca”, completou.
Em fevereiro deste ano, um macho de 11 anos foi encontrado morto no litoral da Carolina do Sul, após ficar preso em equipamentos de pesca por meses. “Podemos recuperar essa espécie, mas serão necessárias regulamentações fortes e de grande impacto para manter as mortes abaixo de uma por ano – o nível que o Serviço Nacional de Pescarias Marinhas diz ser necessário para sustentar a recuperação”, afirmou Whitney Webber.
Cordas fracas
As novas regras, que vêm sendo elaboradas desde 2017, incluem aumentar o número de armadilhas por boia, exigir o uso de cordas fracas e proibir equipamentos que causam emaranhamento em algumas áreas, durante certas estações. Na avaliação da Oceana, os enredamentos continuarão acontecendo com as “cordas fracas”, embora as baleias adultas possam se libertar. Além disso, a medida não afastará a pesca de áreas onde as baleias são encontradas.
“Não há tempo a perder. A regulamentação deve ser reforçada imediatamente com mais manejo de tempo/área e monitoramento eficaz para que as baleias-francas-do-atlântico-norte possam sobreviver”, defendeu Whitney Webber.
Durante o processo de formulação da regra, foram recebidas mais de 201 mil contribuições em apoio a proteções mais fortes para as 360 baleias-francas-do-atlântico-norte restantes, incluindo mais de 18 mil contribuições de membros e apoiadores da Oceana, da Flórida ao Maine, e em todo o país.
Enredamento e colisões
O enredamento em equipamentos de pesca usados para capturar lagostas, caranguejo-de-neve e peixes de fundo é uma das duas principais causas de morte de baleias na região. Estima-se que os equipamentos de pesca usados nos Estados Unidos e no Canadá enredem um quarto das baleias-francas-do-atlântico-norte por ano, e cerca de 83% de todas elas já passaram por isso, ao menos uma vez. As linhas cortam a carne das baleias, levando a infecções que põe em risco a vida dos animais, e são tão fortes que podem arrancar barbatanas e caudas, e produzir cortes em ossos.
As colisões com embarcações são a outra grande causa de ferimentos e morte de baleia-franca-do-atlântico-norte. Esses animais são lentos, geralmente nadam perto da superfície da água, possuem cor escura e não têm nadadeira dorsal, o que os torna muito difíceis de detectar. Em alta velocidade, as embarcações não conseguem manobrar para evitá-las, e as baleias nadam devagar demais para conseguir sair do caminho. Isso as coloca em grande risco de ser atingidas, o que pode causar ferimentos fatais decorrentes de trauma contundente ou cortes causados por hélices.
Brasil registra morte de baleia em rede de pesca
A morte de baleias por enredamento também ocorre na costa do Brasil. Na última semana de agosto, uma baleia jubarte com seis metros de comprimento foi encontrada encalhada na Praia do Mar Grosso, em Laguna, sul de Santa Catarina. O animal estava morto e enrolado em uma rede de pesca tipo emalhe.
Com isso, sobe para 150 o número de baleias encontradas mortas no litoral brasileiro só neste ano. Santa Catarina é o estado que mais registrou encalhes de baleias jubarte em 2021, segundo levantamento do projeto Baleia Jubarte. E cinco das 20 baleias encontradas mortas no litoral catarinense tiveram como causa a interação com equipamentos de pesca de forma acidental.
De julho a novembro, as baleias jubarte migram para as águas quentes das regiões tropicais para reprodução – na costa brasileira, podem ser avistadas desde o Rio Grande do Sul, concentrando-se na região de Abrolhos, na Bahia.
Apesar da proibição da caça e do aumento da população – que hoje está em torno de 20 mil indivíduos –, muitas baleias não sobrevivem e têm mortes trágicas. Além do enredamento, as principais causas de morte de baleias no Brasil são a falta de alimento, a colisão com embarcações e a ingestão de lixo, principalmente o plástico, o que reforça que poluição nos oceanos é uma ameaça para todas as espécies marinhas.
A Oceana está em campanha no Brasil para reduzir a produção e o uso de plástico descartável como forma de combater a poluição marinha. Somente o país polui os oceanos com 325 mil toneladas de plásticos todos os anos, segundo o estudo Um Oceano Livre de Plástico – Desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil, publicado pela Oceana