Mortalidade de botos em Laguna (SC): essa crueldade precisa acabar
Dezembro 26, 2018
Em 2018, foi registrado o maior número de botos mortos em Laguna (SC) nos últimos dez anos, de acordo com dados divulgados na última quarta-feira (26) pelo NSC Total. Quinze animais foram mortos, o triplo do ano anterior.
OsTursiops truncatus auxiliam os pescadores guiando os cardumes para dentro das tarrafas na Barra de Laguna, em Santa Catarina. Esses mesmos botos, considerados patrimônio cultural do município, são vítimas da captura incidental pela pesca de emalhe no Rio Tubarão, prática proibida que pode levar a espécie à extinção na região. Segundo a reportagem, cientistas calculam que as taxas de mortalidade já sejam maiores que os nascimentos, reduzindo ano após ano o tamanho da população que reside na região de Laguna.
Esse não é um problema exclusivo dos Tursiops truncatus. A captura incidental (também chamado de bycatch) é um dos principais impactos da pesca sobre a fauna marinha. “Tornar nossas pescarias menos danosas e mais seletivas por meio de adaptações nos aparelhos de pesca ou na forma de se pescar deve ser prioridade para a gestão pesqueira”, diz Ademilson Zamboni, oceanógrafo e diretor geral da Oceana no Brasil.
Utilizadas para a captura de peixes como a corvina e o bagre, as redes de emalhe são as principais causas de mortalidade não apenas do boto de laguna, mas também outras espécies de cetáceos como a toninha (Pontoporia blainvillei). “Sem o ordenamento pesqueiro, muitos cetáceos morrem incidentalmente, o que pode ameaçar sua existência na nossa costa no futuro”, afirma Zamboni. A toninha do sul do Brasil, por exemplo, já é considerada uma espécie vulnerável à extinção de acordo com a IUCN.
No caso da pesca de emalhe, as principais medidas para evitar a captura dos cetáceos é a proibição da pesca em áreas e períodos em que estas espécies ocorrem com maior frequência. Isso é feito com base em pesquisas científicas que monitoram o comportamento destes animais e a forma como eles interagem com a atividade pesqueira. “Devemos repensar a pesca com redes de emalhe dentro do estuário. Não é natural, nem saudável a morte de mais de 15 botos em apenas um ano. Isso tem que parar antes que seja tarde demais”, afirma Zamboni.
Sobre a Oceana: A Oceana é a maior organização não governamental exclusivamente dedicada à proteção e recuperação `dos oceanos em escala global. Nós trabalhamos para construir, melhorar e acompanhar os resultados de políticas públicas destinadas à proteção dos ecossistemas marinhos e aumentar a abundância de pescados pelo fortalecimento da pesca responsável, legal e sustentável. O Oceana acredita que o melhor conhecimento científico é a base para alcançar esses objetivos. Nossa atuação no Brasil, entre outras conquistas, já levou à adoção de cotas para pesca da tainha no sul do país; à adoção da Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável da Pesca no Rio Grande do Sul; e na elaboração regras para a recuperação dos estoques e o uso sustentável de cinco espécies marinhas que constam da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, mas que são de interesse comercial.
Foto topo: © OCEANA / Enrique Talledo
Foto thumb homepage: ©OCEANA/Soledad Esnaola