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Dados sobre pesca são subestimados, diz especialista

Julho 7, 2015

Os dados oficiais sobre pesca no mundo estão subestimados; parte das pescarias não são relatadas e não entram nas estatísticas oficiais. Essa é uma das conclusões dos estudos apresentados pelo Dr. Daniel Pauly da Universidade de Britsh Columbia, Canadá, durante o I Simpósio Internacional de Manejo da Pesca Marinha, realizado pela Oceana em Brasília. O especialista fez um diagnóstico sobre a pesca mundial, abordou as tendências da atividade e riscos que enfrenta, como os efeitos do aquecimento global.

Para o Dr. Pauly, os dados sobre pesca são incompletos, apenas uma parte é relatada pelos países, considerando as capturas legais e ilegais. “Na década de 1980, foram capturados 140 milhões de toneladas em todo o mundo. O dado oficial é de 80 milhões. Vários tipos de pescas não são reportadas”, revelou. Ele citou os exemplos dos Estados Unidos, Canadá e Rússia, que não informam as capturas que fazem no Ártico ou no Vietnã. Dr. Pauly estima que aproximadamente metade dos dados da África não são relatados. “Isso tudo depende da política dos países”, observou. 

O especialista revelou a pesca extrativa está em declínio em todo o mundo, mas que essa redução não é vista por causa da expansão da pesca. “Na década de 1950, a Espanha pescava em locais distintos. Hoje, ela pesca no mundo todo, em águas distantes. A China, por exemplo, pesca em 93 países”. Segundo o especialista, no Brasil ocorre um fato curioso: “todos os países pescam aqui, menos o Brasil”. Para ele, é preciso “remover a pressão que estamos colocando sobre os oceanos, e isso pode ser feito por meio de avaliações de estoque e manejo da pesca”.

Segundo o Dr. Pauly, um dos fatores de risco é o aquecimento global. Para ele, a tendência mundial é migração das espécies de peixes, que estão indo para águas mais frias. Essas espécies deixam de ocorrer em determinados países e acabam se tornando invasoras de novos locais. “Quando um peixe migra, ele leva consigo todo o potencial de ser pescado”, disse Pauly. Essa migração vem ocorrendo há 30 anos do Sul para o Norte, enquanto a expansão da atividade pesqueira ocorre do Norte para o Sul.

Recomendações

Em sua segunda palestra, Dr. Pauly relacionou uma série de recomendações para melhorar a gestão pesqueira em nível mundial, que podem ser adaptadas para uso no Brasil:

1 – Reduzir e/ou abolir os subsídios à indústria pesqueira; no caso da pesca artesanal, limitar os subsídios à comercialização e distribuição do pescado. Ele explicou que a pesca extrativa não produz o peixe, apenas o captura, e que, portanto, aumentar insumos ou subsídios não irá aumentar no número de peixes existentes no mar, apenas ampliar a capacidade de pesca, geralmente além da capacidade dos próprios estoques. Existem bons subsídios, como investimentos em segurança, mas os maus subsídios prevalecem na América Latina. Anualmente, são gastos mais de US$ 30 bilhões em subsídios em todo o mundo.

2 – Áreas protegidas e reservas marinhas podem ser parte da solução – existem muitas áreas protegidas marinhas em todo o mundo, mas geralmente são pequenas. A criação de novas áreas tem sido lenta, e as metas acordadas internacionalmente não serão cumpridas dentro dos prazos estipulados. “Além disso, é necessário criar também áreas protegidas em áreas que são exploradas comercialmente, não apenas ao redor de ilhas desabitadas no meio do oceano”, lembrou ele.

3 – Estabelecer cotas para pesca (ou limites máximos de captura) é uma boa ideia a princípio, mas que pode se tornar uma má opção se não for implementada corretamente. Para o Dr. Pauly, faz sentido estabelecer limites para a captura de espécies alvo, mas as cotas podem se tornar um problema se forem individualizadas e dadas em perpetuidade para pescadores e se tornarem bens transferíveis; nesse caso, os recursos pesqueiros de um país podem “acabar nas mãos de bancos ou de bilionários”, afirmou ele, citando o exemplo da Islândia, onde isso ocorre.  

4 – Cultivo de pescado (aquicultura) não é uma solução para a oferta de proteína de peixe. “Substituir a captura com aquicultura é um mito”, afirmou Dr. Pauly, lembrando que mais de 1/3 do total de peixes capturados mundialmente são transformados em comida para peixes de cativeiro, e poderiam ser consumidos diretamente ao invés disso.

Dr. Pauly defendeu maior apoio à pesca artesanal, que é mais sustentável. Segundo ele, esse tipo de pesca, de pequena escala, produz 30 milhões de toneladas de pescado ao ano em todo o mundo e gera apenas meio milhão de toneladas de desperdício (peixes sem valor comercial que são capturados e descartados), enquanto a pesca industrial produz pouco mais (40 milhões de toneladas), mas desperdiça pelo menos 20 milhões de toneladas de peixe todos os anos. A pesca artesanal também gasta menos da metade do combustível por tonelada de peixe capturado, emprega dez vezes mais trabalhadores e custa 1/5 em subsídios em  comparação com a pesca industrial.