Soluções baseadas no oceano podem desencadear a ação climática
Na COP26, a Oceana enfatiza a necessidade de interromper novas explorações de petróleo no mar e reduzir a produção desnecessária de plástico
Novembro 10, 2021
Presente na 26ª Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, no Reino Unido, a Oceana defendeu que interromper novas explorações de petróleo no mar e reduzir a produção desnecessária de plástico são soluções essenciais para combater as mudanças climáticas e seus impactos. A organização enfatizou que os líderes mundiais devem dar os passos necessários para avançar em direção a fontes de energia limpa e renovável, como a energia eólica produzida no mar.
Até o dia 12 de novembro representantes de quase 200 países estarão reunidos na COP26. Eles têm a responsabilidade de acelerar ações em direção aos objetivos do Acordo de Paris, pactuado em 2015 para limitar o aumento da temperatura média global entre 1,5ºC e 2ºC e evitar catástrofes naturais.
“Nossos líderes vêm ‘falando’ sobre as mudanças climáticas há décadas, sem implementar ações concretas. Continuar ampliando a exploração no mar, suja e perigosa, quando há necessidade de usar menos combustíveis fósseis, desafia o bom senso”, disse a diretora de políticas da Oceana para a América do Norte, Jacqueline Savitz. “A mudança climática está aqui, agora, em nosso quintal, e está causando furacões mais devastadores, incêndios florestais mortais, secas destruidoras e ondas de calor extremo”, detalhou.
O Brasil é um dos países que caminha na contramão do desenvolvimento sustentável para conter os impactos da mudança climática. “O oceano tem um potencial enorme para a produção de energia renovável, pelas ondas e ventos, e nos oferecem resiliência diante da atual crise climática, além de serem uma importante fonte de alimentos. Mas ao invés de investir na proteção do oceano, o Brasil corre, com orgulho, para o fim da fila e insiste em usar fontes fósseis de energia que colocam o futuro da vida no planeta em risco”, avaliou o oceanólogo Ademilson Zamboni, diretor-geral da Oceana Brasil.
Na intenção de ampliar a exploração de fontes fósseis, o governo brasileiro vem realizando leilões de blocos de petróleo e gás em áreas próximas a regiões de alta sensibilidade ecológica. No mês passado, foram colocados em leilão blocos na região dos montes submarinos que conectam o arquipélago de Fernando de Noronha e a Reserva Biológica do Atol das Rocas. Em 2019 já haviam sido disponibilizados sete blocos de bacias próximas ao Parque Marinho dos Abrolhos. Felizmente, após grande mobilização de ativistas e organizações ambientalistas, entre elas a Oceana, nenhum desses blocos recebeu ofertas.
Mudança imediata
Em agosto deste ano, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) divulgou seu último relatório, alertando para o fato de que, a menos que os tomadores de decisão aprovem políticas para a transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável (como a eólica produzida no mar), de forma imediata e drástica, eles estarão deixando um futuro inviável a nós e às próximas gerações.
O oceano presta um serviço ambiental inestimável, absorvendo grande parte do dióxido de carbono que é lançado na atmosfera, bem como o calor que o acompanha. Mas esse dióxido de carbono está tornando os oceanos mais quentes e mais ácidos, matando corais e outras formas de vida marinha no processo. A produção de petróleo consome muita energia e gera gases de efeito estufa poluentes, como dióxido de carbono e metano, durante todas as etapas do processo, desde a exploração até a extração e o consumo.
No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a energia eólica produzida no mar tem potencial para gerar mais eletricidade do que a atual demanda nacional. “Está claro que nosso oceano possui soluções essenciais e impactantes para enfrentar a crise climática”, afirmou Jacqueline Savitz. “O oceano nos oferece os primeiros passos viáveis, que podem dar início à recuperação de nosso planeta em um caminho promissor”, defendeu.
Plásticos emitem gases de efeito estufa
A Oceana alerta, ainda, que a indústria petroquímica também está contribuindo para a crise climática com a produção de plástico. Segundo a organização, se o plástico fosse um país, seria o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. “A produção de plástico deve triplicar até 2050, possivelmente também triplicando suas emissões de gases de efeito estufa”, disse Savitz.
A produção global de plástico é de aproximadamente 400 milhões de toneladas por ano, dos quais 36% são itens de uso único. Estima-se que oito milhões de toneladas desses resíduos chegam aos oceanos, afetando os ecossistemas marinhos, o clima, a qualidade de vida das pessoas e as atividades econômicas que dependem do mar, tais como a pesca e o turismo.
No Brasil, a Oceana está em campanha para que o país tenha uma lei nacional que reduza o uso e a produção de plásticos descartáveis. O país é o maior produtor de plásticos da América Latina, com uma produção anual de sete milhões de toneladas. Desse montante, três milhões de toneladas são de plásticos de uso único. São cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis tais como copos, talheres, sacolas plásticas e embalagens produzidos a cada ano.
Com baixas taxas de reciclagem, a maior parte desse material acumula-se em aterros e lixões. De acordo com o estudo Um oceano livre de plástico – desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil, publicado pela Oceana, o país é responsável por pelo menos 325 mil toneladas desses resíduos que são levados ao mar a partir de fontes terrestres tais como lixões a céu aberto e descartes inadequados.
Jacqueline Savitz alertou que, até que os líderes mundiais reconheçam esse problema e o enfrentem, a situação só vai piorar. Ela destacou, ainda, que algumas empresas estão preparando um caminho para avançar em soluções, ao recorrerem a alternativas reutilizáveis e retornáveis – e as corporações multinacionais devem fazer o mesmo, em uma escala que corresponda ao tamanho de seu impacto. “As empresas devem ser obrigadas a parar de produzir tanto plástico descartável desnecessário e, em vez disso, oferecer opções sem plástico aos consumidores”, concluiu.