Simpósio internacional da Oceana proporcionou diálogo sobre ciência, produção e gestão pesqueira na América Latina - Oceana Brasil
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Agosto 22, 2024

Simpósio internacional da Oceana proporcionou diálogo sobre ciência, produção e gestão pesqueira na América Latina

Por: Oceana

O TEMA: 

Foto: Bruno Golembiewski @brunogolemba

 

Evento reuniu especialistas de diversos países e promoveu discussões avançadas sobre a gestão sustentável da pesca das sardinhas e outros pelágicos

O simpósio A Proteína Perfeita, organizado pela Oceana em Itajaí (SC), reforçou a importância da ciência pesqueira no Brasil e destacou os desafios e oportunidades para a gestão sustentável de sardinhas e outros pelágicos no Atlântico Sul e Pacífico. O encontro internacional reuniu especialistas de ponta do Brasil e de diversos países, abrindo um diálogo qualificado com as instituições da América Latina mais desenvolvidas em tecnologias, métodos e processos de produção e gestão pesqueira. “Saímos desses painéis mais aptos e seguros para escolher novos caminhos para a pesca sustentável desses pequenos peixes, como sardinhas e anchovetas, que são fundamentais tanto para a segurança alimentar da população quanto para a nossa economia”, destacou Ademilson Zamboni, diretor-geral da Oceana e um dos idealizadores do simpósio.

Com um público composto por pesquisadores, professores, estudantes e empresários, o simpósio ocorreu no dia 13 de agosto, integrado à programação dos dois principais congressos das ciências do mar e da oceanografia da América Latina: o 20º Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar (Colacmar’2024) e o 8º Congresso Brasileiro de Oceanografia (CBO’2024). O evento contou com palestras de renomados pesquisadores de Estados Unidos, África do Sul, Peru, Chile e Brasil.

“O simpósio mostrou ao público brasileiro e latino-americano que os recursos pesqueiros podem ser bem geridos e tornarem-se abundantes fornecendo alimentos, indefinidamente para milhões de pessoas. Alimentos esses que têm de alto valor nutricional e com baixo impacto ambiental. Aliás, esse trabalho da Oceana no Brasil é muito inspirador”, analisou Andy Sharpless, ex-CEO da Oceana. Após o simpósio, ele ofereceu uma concorrida sessão de autógrafos do seu livro A Proteína Perfeita, que tem prefácio assinado pelo ex-presidente Bill Clinton.

Em sua palestra, Andy Sharpless detalhou o termo “proteína perfeita”. Na obra, ele defende o pescado como um alimento central na vida do ser humano, destacando a importância de abordagens sustentáveis e integradas na gestão para garantir a conservação dos recursos marinhos e o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos. Pelágicos como a sardinha desempenham um papel estratégico em diversos campos nutricionais, sendo uma fonte singular de proteína, devido ao seu perfil nutricional completo e de alta qualidade.

Experiências compartilhadas

O evento proporcionou uma troca única entre representantes de diversos segmentos da cadeia produtiva da pesca para debater uma gestão de qualidade e sustentável da atividade no Brasil. “Tivemos o melhor da ciência e do setor produtivo, ambos comprometidos em desenvolver, no Brasil, uma pescaria desses pequenos peixes com qualidade, respeitando os limites de estoque, tudo associado ao conceito das sardinhas e dos pelágicos como sendo a proteína perfeita que a população tanto precisa”, destacou Martin Dias, diretor-científico da Oceana.

Uma das experiências pesqueiras mais aguardadas foi sobre a pesca da anchoveta peruana, líder em volume de capturas na costa do Peru e Chile. A espécie, considerada a maior pescaria do mundo, permite a produção de até 7 milhões de toneladas ao ano, graças à forte ressurgência costeira e capacidade biológica da espécie. “O simpósio possibilitou uma experiência muito interessante ao compartilhar diferentes visões sobre a gestão dessa pescaria. Precisamos continuar ensinando e aprendendo para alimentarmos a população de forma sustentável”, comentou Jorge Risi Mussio, gerente-geral da Sociedade Nacional Pesqueira do Peru.

Carlos Eduardo Villaça, presidente do Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (CONEPE), acredita que o simpósio abriu discussões fundamentais sobre a importância e a capacidade da ciência pesqueira em colaborar com as decisões do mercado e do sistema produtivo. “Fiquei impressionado com a avaliação de estoques para a pesca massiva da anchoveta no Peru, demonstrando que a espécie segue forte mesmo diante da pressão de toneladas de peixes retirados do mar há pelo menos 70 anos. Precisamos trazer esse enfoque com mais força para o Brasil, onde muitas vezes prevalece um discurso conservacionista sem uma base científica robusta”.

Pesquisador do Instituto de Fomento Pesquero (IFOP), do Chile, Fernando Espíndola Rebolledo destacou que seu país enfrenta uma crise na pescaria dos peixes pequenos pelágicos, que não aparecem mais em abundância na costa centro-norte chilena. Instituições científicas, públicas e privadas, estão trabalhando para definir uma nova cota de captura que garanta a recuperação do estoque. “O maior desafio da pesca de pequenos pelágicos é o ciclo de vida muito rápido do peixe. A pescaria precisa trabalhar com uma carga menor, respeitando a cota de captura. Tudo é muito dinâmico e não há previsibilidade. Estudamos constantemente como será o manejo e a captura”, contou.

Lauro Madureira, pesquisador da Fundação Universidade Rio Grande (FURG), destacou a diferença entre o Brasil e outros países sul-americanos na seriedade com que tratam a pescaria de pequenos pelágicos. “No Peru e no Chile, há uma constância na coleta de dados e no monitoramento de parâmetros biológicos e oceanográficos, com uma série histórica de pesquisa hidroacústica de mais de 50 anos, o que contrasta com a nossa situação, que carece de dados”.

Durante o simpósio, os palestrantes aprofundaram temas cruciais sobre a situação dos peixes pelágicos, abordando aspectos como segurança alimentar, economia, conservação de espécies, sobrepesca, impactos ambientais, variações climáticas, monitoramento inadequado e desafios regulatórios. Essas discussões ressaltaram a importância de políticas e regulamentações internacionais para promover a sustentabilidade da pesca e garantir a cooperação entre países e partes interessadas.

Feira e trabalhos científicos  

Na 1ª Feira de Tecnologia Oceânica Brasil, a OceanTech – parte do Colacmar e do CBO – o estande interativo da Oceana atraiu grande atenção ao divulgar campanhas importantes, como Pare o Tsunami de Plástico, e ao apresentar estudos, pesquisas científicas e as vitórias da organização no Brasil ao longo dos últimos 10 anos, o que reforça o seu compromisso com a sustentabilidade dos oceanos. “Tanto o Colacmar quanto a OceanTech Brasil foram eventos cruciais para a Oceana fortalecer relações com os principais atores do setor pesqueiro no Brasil. Tivemos a oportunidade de dialogar sobre práticas de pesca sustentável, moldar futuras campanhas e destacar questões marinhas críticas,” resumiu Zamboni.

Confira algumas fotos do evento:

Fotos: Bruno Golembiewski @brunogolemba