Medalhista olímpica da vela feminina, em Pequim 2008, Isabel Swan nasceu em uma família apaixonada pelo mar. Desde menina, ouvia histórias sobre velas, velejadores e olímpiadas. Inspirada por esse ambiente, ela se tornou uma atleta náutica de alto padrão, referência olímpica e ativista de algumas causas que movem seu coração. Uma de suas lutas é o enfrentamento à poluição marinha por plástico. Em 2015, Isabel sentiu na pele os danos causados pelo lixo plástico que infesta a Baía de Guanabara, quando em uma regata preparatória para as Olimpíadas do Rio, um saco descartável embargou a bolina do seu barco, afastando-a do pódio. “Foi um evento marcante que me levou a fazer campanhas de despoluição. É preciso que haja compromisso da sociedade, das empresas, dos governos e da população para a redução da poluição plástica”, defende ela, que também atua pela equidade de gênero no esporte.
Você tem uma reconhecida conexão com o oceano. Pode nos contar o que inicialmente despertou seu amor pelo mar e pela vela?
O amor pela vela, pelo mar e pela vida náutica veio da minha família. Principalmente, da parte do meu pai, que foi velejador e, antes de eu nascer, chegou a fazer uma campanha olímpica para os Jogos de Moscou. Minha madrinha, Claudia Swan, irmã do meu pai, foi como velejadora à Olímpiada de 1992. Eu me lembro de quando criança escutar essas histórias sobre Olimpíadas e sobre velejar. Essa paixão pelo mar foi despertada em mim desde novinha.
A equidade de gênero nos esportes tem sido uma de suas grandes batalhas nos últimos anos. Quais são os principais desafios para que as mulheres consigam ocupar o espaço que lhes cabe no esporte?
Hoje, há quase 128 anos de Jogos Olímpicos da Era Moderna, as atletas mulheres, finalmente, vão estar equiparadas em número aos atletas homens nas Olímpiadas de Paris 2024. É marcante e inédito na história dos Jogos Olímpicos essa equiparação. Porém, entre as comissões técnicas, as treinadoras e as chefas de missão, esse número ainda é baixo. É importante criar uma política de equidade de ações para as mulheres em posições de liderança para chegarmos à verdadeira igualdade. O Comitê Olímpico Internacional (COI) já pensa há anos nesse sentido, aumentando a quantidade de membros de representatividade feminina, com ações como a representatividade e espaço das mulheres na mídia e em cursos de liderança. Outra tendência é ter esportes mistos, a exemplo do revezamento no atletismo e na natação. Na vela, há classes mistas. Em uma delas, velejo com Henrique Haddad. É uma tendência rica para os esportes porque são perspectivas e características diferentes que se complementam.
Durante uma regata preparatória para as Olimpíadas do Rio, em agosto de 2015, você e Samuel Albretch foram prejudicados pela poluição na Baía de Guanabara. O que aconteceu naquele dia e quais os efeitos daquele episódio em você?
A gente estava ganhando a regata, na raia do Rio de Janeiro, aos pés do Pão de Açúcar. E tem uma imagem aérea da regata onde a gente “pega um lixo” e para na primeira boia de contravento, começando a decair na regata em função de ter pego esse lixo na bolina do barco. Foi um evento muito chato e marcante para mim. Depois disso, fiz campanha pela despoluição da Baía de Guanabara, acreditando que os Jogos Olímpicos do Rio poderiam ajudar nesse processo de despoluição. Acho que evoluímos, mas não criamos uma estrutura para a limpeza total. Precisamos de mais redes de esgotos, e também de educação. Há ainda muita “língua de lixo”, depois de dias de chuvas. Isso num dos cartões-postais mais bonitos do mundo
Quais são suas maiores preocupações em relação à saúde dos oceanos?
Eu trabalho fortemente dentro de dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Social (ODS). O de número 5, “Equidade de Gênero”, liderando, no Comitê Olímpico do Brasil (COB), a área “Mulher no Esporte”. E o de número 14, “Limpeza dos Oceanos”. A vida no oceano promove a paz na Terra. A gente vê esse volume de pesca predatória, de poluição, esse mar de plásticos formando continentes de lixo e microplásticos. É preciso abolir o plástico da vida. Pequenos atos, como a separação do lixo, mesmo que seja um ato individual, que a princípio tem pouco impacto, à medida que a gente se compromete com uma mudança de postura e atitude, outras ações reverberam. A gente fica mais cuidadoso com o consumo de água, com o que a gente está fazendo pela natureza. É fundamental assumir essa responsabilidade para que, aos poucos, a gente consiga mudar e manter a saúde dos nossos oceanos, que está se degradando e sofrendo muitos riscos. Quem sofre, na realidade, é a próxima geração que está chegando. Quando você dá um mergulho e observa que um coral que era lindíssimo agora está se degradando por causa das mudanças ambientais, você compreende o impacto que tudo isso gera no fundo dos oceanos. Dá uma tristeza muito grande!
Como está a luta pela despoluição da Baía de Guanabara?
Eu participei do “Movimento Baía Viva”, antes dos Jogos Olímpicos do Rio e, efetivamente, tivemos avanços. Mesmo assim, continuamos a derramar 18 mil litros de esgoto por dia nas águas da Baía de Guanabara, que ainda assim consegue se renovar. Eu velejo diariamente e conto nos dedos as vezes que vi botos e golfinhos, que são símbolos do Rio de Janeiro. É, realmente, triste…
Como é a sua participação na Liga das Mulheres pelo Oceano?
Fui convidada para participar da Liga das Mulheres pelo Oceano por ser atleta e embaixadora do Instituto Trata Brasil. São mulheres que estudam os oceanos, cientistas, acadêmicas, que defendem os mares em diversas categorias de atuação. Fazem campanhas e envolvem-se pela luta para evitar a visão catastrófica de 2050 sobre a queda absurda da vida marinha. Sou feliz por participar desse grupo porque a mulher, por ser mais sensitiva, pensar mais no futuro e nas próximas gerações, gerar e ser mãe, pode ter essa percepção e esse cuidado maior.
Em sua opinião, o que o Estado e as empresas devem fazer para garantirem a redução da poluição plástica em nossos oceanos?
É preciso que haja compromisso da sociedade, das empresas, dos governos, da população para a redução da poluição plástica. Que se formem mecanismos e acordos de compromissos para cada um agir e, assim, evitarmos plásticos no oceano. Que sejam a compra de material reciclável, investimentos em projetos de pesquisas nas empresas – em apoio à mudança do uso de plástico, da não utilização desse material. As pessoas precisam entender a cadeia do produto que consome, e como será feito o seu descarte. Tudo isso reverbera na saúde dos oceanos, numa mudança de mentalidade para evitar um desastre ambiental pré-anunciado para 2050.