“Já podemos sentir os efeitos das mudanças climáticas sobre a pesca no Sudeste e Sul do Brasil” - Oceana Brasil
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Novembro 24, 2023

“Já podemos sentir os efeitos das mudanças climáticas sobre a pesca no Sudeste e Sul do Brasil”

Por: Oceana

O TEMA: 

Foto: Acervo Pessoal

 

Cientista do Laboratório de Estudos Marinhos Aplicados (Lema), da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Rodrigo Sant’Ana estuda a relação e os impactos das mudanças climáticas sobre a pesca praticada nas regiões Sudeste e Sul.  Logo após a realização da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), esta 8ª edição da série “Oceana Entrevista” traz algumas constatações do oceanógrafo e mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental sobre os efeitos do aumento da temperatura no fundo dos oceanos já observados por meio do conceito de “tropicalização das espécies”, com o surgimento de águas mais quentes e frias no oceano.

As mudanças climáticas já causam impactos na pesca marinha?

Sim, já podemos sentir os efeitos das mudanças climáticas sobre o serviço ecossistêmico: pesca no Sudeste e Sul do Brasil. Em um artigo publicado recentemente, trazemos algumas evidências sobre esses efeitos na tropicalização das espécies capturadas pela pesca demersal [do fundo do mar] junto à “Margem Meridional Brasileira” (região Sul do país). Nesse artigo, o pesquisador Angel Perez e eu, trazemos uma análise que demonstra um aumento significativo na composição térmica das capturas da pesca demersal do Sudeste e Sul. Esse aquecimento na composição térmica das capturas, observado mais abruptamente após 2012, é acompanhado por um aumento da temperatura média do fundo oceânico.

Você poderia listar as principais consequências do ponto de vista ambiental e socioeconômico?

As consequências do ponto de vista ambiental e, por sua vez, socioeconômico, é o que estamos buscando mapear no Laboratório de Estudos Marinhos Aplicados (Lema), da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Estamos buscando trabalhar com os efeitos já sensíveis no serviço ecossistêmico: pesca, mas também, buscando mensurar e avaliar quais as perspectivas futuras de mudança, quais as oportunidades e quais os impactos e, também, como isso pode afetar o balanço econômico da atividade.

Quais regiões e pescarias serão mais afetadas pelas mudanças climáticas no Brasil?

Esta pergunta é bastante complexa. Todas as regiões e, por sua vez, os serviços derivados delas serão afetados. As mudanças climáticas são eventos globais, que estão e irão nos afetar cada vez mais. No caso do Brasil, um país com uma extensão costeira relativamente grande, de recortes diversos e que permeia diferentes ambientes e zonas climáticas, esses efeitos serão os mais diversos possíveis, assim como os desafios provenientes dessa diversidade sob efeitos de mudanças também serão.

Você pode nos falar sobre a sua pesquisa nesse tema?

No Lema, temos focado nossos esforços para buscar evidências que nos mostrem que tais efeitos já são perceptíveis na atividade pesqueira atuante na “Margem Meridional Brasileira”. Uma das frentes é avaliar a composição termal das capturas, como evidência possível a mudança nas composições de espécies ao longo do tempo. Essa abordagem permite avaliar se já temos algum efeito observável nas capturas e se essa mudança é resultado do surgimento de espécies com preferência por águas quentes em detrimento àquelas comumente capturadas e com afinidade por águas mais frias, fazendo uma alusão ao conceito de “tropicalização” das capturas.

Como a pesquisa dimensiona essa extensão?

Buscamos operar na avaliação dos habitats preferenciais dessas espécies, quais características que levam essas ocorrerem em nossa região e, com base nisso, determinar como se daria a alteração de sua distribuição em função de mudanças no seu habitat resultantes, por exemplo, das mudanças climáticas. Com base nesse resultado, podemos buscar construir cenários preditivos para o futuro, baseados nos cenários de mudança disponibilizados pelo IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], por exemplo, gerando subsídios técnico-preditivo para os processos de gestão pesqueira. Adicionalmente, outra frente que estamos focando esforços no Lema/Univali é a derivação desses efeitos acima descritos e qual o impacto econômico de tais mudanças.