Espécies e habitats vulneráveis estão altamente ameaçados pelo derramamento de óleo na Califórnia - Oceana Brasil
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Espécies e habitats vulneráveis estão altamente ameaçados pelo derramamento de óleo na Califórnia

Análise da Oceana mapeou recursos oceânicos suscetíveis à contaminação depois que cerca de 570 mil litros de petróleo vazaram de um oleoduto no Pacífico

Outubro 29, 2021

Foto: Mike Peel/Wikimedia

Uma nova análise da Oceana identifica algumas das espécies ameaçadas e vulneráveis ​​que estão em alto risco em função do devastador derramamento de óleo na costa de Huntington Beach, na Califórnia. O vazamento ocorreu no início de outubro, quando cerca de 570 mil litros de petróleo se espalharam por uma área de aproximadamente 33 km2 do Oceano Pacífico, atingindo diversas praias da região.

A Oceana mapeou as áreas onde estão os recursos oceânicos ecologicamente diversos e economicamente valiosos mais suscetíveis à contaminação por óleo, o que é fundamental para compreender as implicações potenciais e informar as avaliações sobre os danos aos recursos.

“Embora a magnitude dos danos aos habitats e à vida selvagem atingidos pelo óleo e as implicações econômicas das pescarias fechadas ainda não estejam claras, esperamos que esta análise ajude a informar os esforços para responder à situação e seja levada em consideração ao se garantir que os causadores sejam responsabilizados por danos que poderiam ter sido evitados”, disse Geoff Shester, diretor de campanhas na Califórnia e cientista sênior da Oceana.

De acordo com a análise da Oceana, os seguintes recursos estão em risco perto da área do derramamento de óleo:

  • Pesca comercial: em 2020, os desembarques de pesca comercial nos portos pesqueiros de Los Angeles e San Diego movimentaram 27,2 milhões de dólares. O valor total das operações de pesca comercial para as economias costeiras é muitas vezes maior, considerando-se o emprego, o processamento e os produtos do mar. As pescarias comerciais mais importantes da região incluem lula-da-Califórnia, atum, peixe-espada, lagosta, camarão e ouriço-do-mar.
  • Pesca recreativa: A contribuição econômica da pesca recreativa em água salgada no sul da Califórnia é estimada em 1 a 2 bilhões de dólares por ano.
  •  Jardins de coral de água fria: os corais de águas profundas proporcionam berçários importantes para espécies de peixes recreativas e comerciais. Quando chega ao fundo do mar, o óleo pode sufocar e matar os corais. Pelo menos 15 tipos diferentes de coral na costa do sul da Califórnia podem ser impactados.
  • Áreas de alimentação das baleias-azuis: as menos de 1.500 baleias-azuis em perigo de extinção usam as águas do sul da Califórnia como principal área de alimentação. Elas viajam centenas de quilômetros da Costa Rica em novembro para se alimentar de krill – pequenos animais parecidos com camarões. Os derramamentos de óleo podem causar a morte em massa do krill, ameaçando a principal fonte de alimento das baleias-azuis e as expondo a produtos químicos tóxicos.
  • Rota de migração das baleias-cinzentas: Durante a migração anual para seus berçários na região da Baja Califórnia, as baleias cinzentas costumam chegar no sul da Califórnia em dezembro. De 2019 a 2021, aproximadamente 500 baleias-cinzentas ficaram presas em sua rota de migração do México ao Oceano Ártico, como resultado direto da mudança climática, e esse derramamento de óleo pode agravar esses impactos.
  •  Recifes rochosos e Florestas de Kelp: Essas áreas são designadas pelo governo federal como “habitats que merecem atenção especial” por causa de sua sensibilidade, raridade e importância ecológica para uma diversidade de peixes e invertebrados do sul da Califórnia. O derramamento de óleo pode sufocar as Florestas de Kelp, impedindo a fotossíntese e causando a morte desse habitat fundamental.
  • Área importante para pássaros: A National Audubon Society designou essas águas como uma importante área para andorinhas-do-mar, espécie considerada vulnerável. O derramamento pode destruir um de seus únicos locais em que constroem ninhos remanescentes no mundo e impactar suas áreas de alimentação adjacentes.
  • Zonas úmidas costeiras: Essa região tem a rede mais extensa de zonas úmidas costeiras remanescentes no sul da Califórnia, globalmente importante para a biodiversidade e para muitas espécies de aves marinhas, como pelicano marrom, talha-mar, trinta-reis-miúdo e andorinha-do-mar. Depois de inundadas com óleo, é impossível removê-lo dessas áreas úmidas, que são locais de paradas críticas ao longo da rota aérea do Pacífico para dezenas de espécies de aves migratórias.
  • Reservas marinhas e áreas de conservação: O derramamento pode dizimar alguns dos habitats mais primitivos da costa que foram protegidos por um amplo processo público na última década, como reservas marinhas e áreas de conservação estaduais.

 

Proteção permanente

Nos Estados Unidos, a Oceana pede ao Congresso para proteger permanentemente o Pacífico, o Atlântico e a Costa do Golfo da Flórida da exploração de petróleo no mar como parte da Lei “Build Back Better” (que pode ser traduzida como “Reconstruir Melhor”). Uma análise recente da organização mostra que o fim de novas concessões protegerá a “economia costeira limpa” da Califórnia, que, como um todo, sustenta cerca de 654 mil empregos e mais de 50 bilhões de dólares em termos de Produto Interno Bruto (PIB).

A análise também concluiu que o fim de novas concessões para exploração de petróleo e gás no mar dos Estados Unidos poderia evitar mais de 19 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa, além de mais de 720 bilhões de dólares em danos a pessoas, propriedades e meio ambiente em nível nacional.

“Precisamos que o governo federal pare de vender nossos oceanos para a exploração de petróleo, e o Congresso pode garantir que isso aconteça na Lei Build Back Better, que está sendo negociada atualmente”, disse Diane Hoskins, diretora de campanhas da Oceana. “Sabemos que o petróleo é tóxico. Sabemos que não devemos comê-lo, respirá-lo ou nadar nele. Mas a fauna marinha não tem essa opção quando ocorrem derramamentos de óleo. É hora de proteger permanentemente nossos oceanos de qualquer concessão para exploração de petróleo e gás no mar.”

 

Petróleo ameaça oceano também no Brasil

Dois dias após o vazamento de petróleo no sul da Califórnia, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) do Brasil realizou, em 7 de outubro, um leilão para a exploração de 92 blocos marítimos, distribuídos em 11 setores das Bacias de Campos, Santos, Pelotas e Potiguar. Dentre essas áreas, 14 blocos ficam na área de influência do Parque Nacional de Fernando de Noronha e da reserva biológica do Atol das Rocas. São regiões de extrema sensibilidade para a preservação dos ecossistemas de recifes, que funcionam como berçários de vida marinha. Ao final do leilão, cinco blocos foram arrematados, felizmente nenhum deles em áreas de sensibilidade ambiental.

Essa foi a segunda vez em dois anos que áreas de grande sensibilidade ecológica na costa do Brasil foram oferecidas em leilão. Em 2019, o governo brasileiro leiloou sete blocos na Bacia Camamu-Almada na região próxima ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, maior complexo de recifes de corais do Atlântico Sul, na Bahia. A decisão contrariou inclusive parecer do corpo técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Após mobilização da Conexão Abrolhos, grupo de ativistas e organizações não governamentais, do qual a Oceana faz parte, o certame não recebeu nenhuma oferta.

“Os oceanos têm um potencial enorme para a produção de energia renovável, pelas ondas e ventos, e nos oferecem resiliência diante da atual crise climática, além de serem uma importante fonte de alimentos. Mas ao invés de investir na proteção dos oceanos, o Brasil corre, com orgulho, para o fim da fila e insiste em fontes fósseis de energia que colocam os recursos marinhos em risco”, disse o diretor-geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni.

O leilão não foi a única ameaça aos ecossistemas marinhos da costa brasileira em 2019. O país também foi surpreendido pela chegada de manchas de óleo de origem desconhecida, que atingiram mais de mil localidades, em 11 dos 17 estados costeiros. Considerado o maior desastre ambiental em extensão do Brasil, o evento continua sem respostas sobre sua origem e causa.