Estudo revela que reduzir o plástico descartável no Brasil pode gerar R$ 6 bilhões em valor de mercado e evitar a emissão de 18 milhões de toneladas de CO₂
Considerando o período de 2025 até 2040, a transição do plástico descartável para alternativas mais sustentáveis pode resultar em uma redução de 8,2 milhões de toneladas de resíduos, com uma diminuição de 18 milhões de toneladas de CO₂ emitido, além de gerar um aumento potencial de R$ 403 milhões no PIB
Brasília (DF), 13 de novembro de 2024 – A poluição plástica é uma crise global que exige ações urgentes e coordenadas. Em resposta a esse desafio, um tratado global de combate à poluição plástica está em negociação, com a última rodada de discussões programada para ocorrer entre 25 de novembro e 1 de dezembro na Coreia do Sul. O estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis, realizado a pedido das organizações Oceana e WWF-Brasil, aponta que a eliminação gradual de itens plásticos descartáveis pode reduzir drasticamente a poluição ambiental, ao mesmo tempo em que fortalece a economia do país. A pesquisa foi desenvolvida pela consultoria Systemiq e evidencia os efeitos socioeconômicos e ambientais da transição de plásticos descartáveis para materiais alternativos ou modelos de reuso.
A poluição plástica é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta hoje, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Cientistas já identificaram a contaminação por microplásticos em diversos órgãos vitais humanos. O Brasil, maior produtor e poluidor de plástico da América Latina, produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis, dos quais 87% são embalagens e 13% utensílios descartáveis como talheres e sacolas. Apesar desses altos níveis de produção, os sistemas de gestão de resíduos permanecem inadequados. Como consequência, despejamos aproximadamente 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos a cada ano – o que representa cerca de 8% de todo o plástico que atinge os mares globalmente.
Diante desse cenário, é fundamental que o Brasil avance na implementação de soluções concretas para esta grave crise.
Principais Conclusões do Estudo
Benefícios Ambientais
- Considerando a substituição de plásticos descartáveis por outros materiais como papel, vidro, alumínio e compostáveis, que também geram resíduos quando descartados, estima-se, ainda assim, uma redução líquida de 3,2 milhões de toneladas na geração de resíduos no período de 2025 a 2040. Esta redução, além potencialmente diminuir o gasto público com gestão de resíduos, evita que sejam emitidas 18 milhões de toneladas de CO₂ eq., o equivalente a retirar 3,9 milhões de carros de circulação por um ano.
- Durante esse período de 15 anos, projeta-se que a geração de resíduos de plásticos descartáveis diminua em 8,2 milhões de toneladas, assumindo que todo o volume produzido se tornaria resíduo devido à baixa reciclabilidade e à alta probabilidade de vazamento.
Transição Socioeconômica
- A eliminação dos descartáveis plásticos representa apenas 6,8% da produção nacional de plásticos transformados, e emprega entre 15.000 e 24.000 trabalhadores. Projeções indicam uma redução líquida de 13.000 empregos diretos até 2040, porém no cenário que considera também os empregos indiretos, o impacto final na economia seria de cerca de 1.000 postos de trabalho. Essa análise significa que a indústria de materiais alternativos e setores interligados a elas teriam capacidade de absorver grande parte da mão de obra.
Oportunidades Econômicas
- O aumento da demanda por materiais alternativos e produtos substitutos pode incrementar o valor econômico desse mercado em até 53% O valor potencial de mercado para os produtos substitutos alcança R$17,3 bilhões, um aumento líquido de R$6 bilhões.
- Com base no modelo econômico, a realocação da demanda de produtos plásticos para um cenário alternativo pode adicionar R$403,3 milhões ao Produto Interno Bruto (PIB).
“Com indústrias alternativas já consolidadas e algumas em ascensão, como produtos compostáveis e serviços de reuso, o Brasil está bem posicionado para realizar a transição para uma economia livre de plásticos descartáveis. O volume de produção é muito pequeno diante do impacto ambiental, social e econômico causado por esses itens, mas a transição é viável. Para isso, precisamos aprovar políticas públicas, como o Projeto de Lei 2524/2022, que abre novas oportunidades econômicas, com potencial para fortalecer modelos de negócios inovadores, explorar a bioeconomia e descarbonizar o setor”, pontua Lara Iwanicki, gerente sênior de advocacy da Oceana.
Em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal desde outubro de 2023, o Projeto de Lei 2524/2022 inclui disposições para eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, com ênfase na transição para alternativas que sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis. Essa abordagem visa reformular os padrões de produção e consumo no Brasil, adotando uma Economia Circular do Plástico, e evitando o descarte deste material na natureza.
A sociedade demanda uma transição
Uma pesquisa divulgada pelo WWF-Brasil em abril deste ano revelou que oito em cada dez pessoas em todo o mundo querem a proibição global de plásticos descartáveis. No Brasil, 85% dos entrevistados defendem regras que exijam a redução na produção mundial de plástico.
Os dados e as análises do estudo Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis oferecem um cenário bastante positivo para que o governo brasileiro se posicione de modo assertivo na INC-5 – quinta e última reunião para a conclusão do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, que acontecerá entre os dias 25 de novembro e 1º de dezembro, em Busan, na Coreia do Sul.
“Este estudo embasa a urgência de políticas públicas que promovam alternativas ao plástico descartável, ao mesmo tempo em que reforça a necessidade de apoio econômico a setores emergentes. O Brasil, no INC-5, pode impulsionar o debate com ações concretas e metas específicas, liderando nações em direção a uma Economia Circular”, afirma Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
Políticas Públicas e Incentivos Econômicos
Para garantir o sucesso da transição para um Brasil sem plásticos descartáveis e o potencial de mercado para os produtos sustentáveis, o estudo enfatiza a necessidade de apoio governamental e incentivos econômicos para materiais substitutos. Com suporte estratégico, pequenas e médias empresas poderão competir de forma equilibrada e expandir sua participação e competitividade no mercado, reforçando a viabilidade econômica das soluções sustentáveis e promovendo um futuro de baixo impacto ambiental.
“Nossa análise demonstra que a transição dos plásticos descartáveis no Brasil pode gerar ganhos ambientais e econômicos substanciais. Ao implementar uma estrutura robusta que promova materiais recicláveis, compostáveis ou reutilizáveis, o Brasil pode reduzir o desperdício e reduzir as emissões de CO₂ destes resíduos. Os dados mostram que tal mudança não é apenas alcançável, mas também economicamente viável, com potencial para criar novas oportunidades de mercado e apoiar o crescimento do emprego na indústria de materiais sustentáveis”, disse Matthias Becker, sócio da Systemiq. “Esta transição oferece ao Brasil a oportunidade de liderar a inovação sustentável, ao mesmo tempo que apoia os compromissos globais para reduzir a poluição por plásticos”, conclui ele.
Para mais informações sobre o estudo e entrevistas com especialistas, entre em contato com:
- Patrícia Bonilha – pbonilha@oceana.org (61 99620-6443) – gerente de comunicação e assessoria de imprensa da Oceana
- Rita Silva – rita܂silva@avivcomunicacao܂com܂br – assessoria de imprensa do WWF
- Sandra Miyashiro – sandra܂miyashiro@avivcomunicacao܂com܂br – assessoria de imprensa do WWF
- Ulrike Stein – ulrike.stein@systemiq.earth – assessoria de imprensa da Systemiq (Reino Unido)
Sobre a Oceana
A Oceana é a maior organização de advocacy sem fins lucrativos dedicada exclusivamente à conservação dos oceanos. Com base na ciência, trabalhamos para recuperar a abundância dos oceanos e garantir a saúde da biodiversidade marinha por meio de mudanças nas políticas públicas de países que controlam mais de um quarto da pesca mundial. Nossas campanhas apresentam resultados efetivos, explícitos em mais de 300 vitórias contra a sobrepesca, a destruição de habitats, a poluição por petróleo e plástico e a perda de espécies ameaçadas.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 28 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática.
Sobre a Systemiq
A Systemiq, fundada em 2016, tem como missão impulsionar a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris, transformando mercados e modelos de negócios em cinco sistemas principais: natureza e alimentos, materiais e circularidade, energia, áreas urbanas e finanças sustentáveis. A Systemiq combina consultoria estratégica com trabalho de alto impacto, estabelecendo parcerias com empresas, setor público, financiadores e sociedade civil para promover mudanças sistêmicas. A empresa está presente no Brasil, França, Alemanha, Indonésia, Holanda e Reino Unido.