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Navios ignoram desaceleração voluntária destinada a proteger baleias ameaçadas de extinção no Canadá

Fevereiro 25, 2021

Na esteira do anúncio feito pelo Governo do Canadá sobre as medidas de 2021 para proteger as baleias-francas-do-atlântico-norte, a Oceana divulgou um relatório revelador: a desaceleração voluntária experimental de embarcações implementada pela Transport Canada no ano passado, para proteger as baleias de colisões fatais – uma das maiores ameaças à sobrevivência desses animais em perigo crítico – foi ignorada por dois terços dos navios que passaram pelo Estreito de Cabot. Apesar do descumprimento persistente – e de a Oceana Canadá ter compartilhando suas conclusões com a Transport Canada ao longo de 2020, a medida continuará sendo voluntária em 2021.

Pelo menos 33 baleias-francas-do-Atlântico-Norte morreram desde 2017, 21 delas nas movimentadas águas canadenses. Das dez mortes no Canadá para as quais havia causas conhecidas, oito estavam relacionadas a colisões com embarcações. O relatório The Edge of Extinction (À beira da extinção) descreve a situação de um dos mamíferos marinhos que mais correm perigo no planeta, dos quais restam apenas cerca de 360. O documento também destaca as medidas que o governo federal do Canadá tem que tomar para proteger as poucas baleias remanescentes e ajudar a garantir a sobrevivência da espécie.

“As baleias-francas-do-atlântico-norte estão em crise. Sem medidas de manejo mais fortes para mitigar as ameaças que enfrentam, elas não sobreviverão. Estamos decepcionados com a baixa eficácia das medidas para protegê-las de colisões com embarcações”, disse a diretora de campanhas da Oceana no Canadá, Kim Elmslie. “Sabemos que velocidades menores podem ajudar a salvar as baleias francas: quanto mais lenta a embarcação, maior a probabilidade de uma baleia sobreviver a uma colisão. Também sabemos que a desaceleração voluntária não está funcionando. O governo deve fazer todo o possível para proteger essas baleias, inclusive implementar a desaceleração obrigatória durante toda a temporada no Estreito de Cabot.”

Velocidade monitorada

Usando dados da Global Fishing Watch, a Oceana monitorou a velocidade dos navios durante os dois períodos experimentais de desaceleração implementados pela Transport Canada, de 28 de abril a 15 de junho e de 1º de outubro a 15 de novembro. Durante esse tempo, solicitou-se que os navios com mais de 13 metros reduzissem a velocidade até 10 nós.

A Oceana observou que dois terços dos deslocamentos de embarcações (1.055 de 1.565) ultrapassaram 10 nós. Além disso, mais de 40% ultrapassaram 12 nós, aumentando significativamente o risco de matar uma baleia franca. Estudos recentes mostraram que até mesmo choques com embarcações menores podem ser fatais.

O movimentado Estreito de Cabot, entre a Nova Escócia e a Terra Nova, é a principal porta de entrada para o Golfo de São Lourenço, o rio São Lourenço e os principais portos, como o de Montreal. Dados acústicos coletados recentemente mostraram que as baleias francas entram e saem do Golfo de São Lourenço várias vezes, viajando pelo estreito para passar o verão se alimentando no golfo. Isso inclui mães que se deslocam lentamente e seus filhotes recém-nascidos, que são particularmente suscetíveis a colisões com embarcações, pois passam mais tempo perto da superfície para descansar, se alimentar e conviver.

“Se o governo implementar medidas de proteção mais fortes agora, ainda é possível virar a maré e mudar o destino delas rumo à recuperação – as novas medidas para 2021 anunciadas precisam ir mais longe”, disse Elmslie.

Entre as medidas apontadas pela Oceana estão: tornar a desaceleração voluntária no Estreito de Cabot obrigatória durante toda a temporada; ampliar as restrições de velocidade em todo o Golfo de São Lourenço para todas as embarcações, incluindo as menores que 13 metros; e reduzir a quantidade de cabos de pesca na água por meio do apoio contínuo, de longo prazo, a equipamentos sem cabos e fechamentos por área e tempo.

A Oceana também pede à Transport Canada, órgão governamental responsável pelas políticas e programas de transporte no país, que aumente a transparência das movimentações da frota pesqueira, liberando todos os dados do sistema de Monitoramento de Embarcações (Vessel Monitoring System, VMS) publicamente e para a Global Fishing Watch.