Oceana revela falsa proteção na pesca de lula na China
País manipula dados ao criar restrições onde não existe frota pesqueira
Setembro 4, 2023
Uma análise realizada pela Oceana revelou que o fechamento de áreas de pesca estabelecidas pelo governo da China não exerce, de fato, a proteção da lula. Na realidade, as últimas três restrições de pesca autoimpostas pelo país asiático localizam-se em áreas onde sua frota pesqueira raramente atuou nos últimos anos.
“As supostas proibições de pesca da China são baseadas em falsos pretextos. É como um pinguim dizendo que está desistindo de voar”, explica o diretor de campanhas da Oceana, Dr. Max Valentine. “Acabar com a pesca da lula em áreas onde não há pesca, não ajuda em nada a proteger a lula. Se vamos levar a pesca responsável a sério, precisamos de soluções reais”.
A descoberta foi demonstrada pela análise das atividades dos navios de pesca chineses por meio dos dispositivos AIS (Sistema de Identificação Automática, em inglês) das embarcações chinesas disponíveis na plataforma Global Fishing Watch (GFW) – organização independente fundada pela Oceana em parceria com a SkyTruth e o Google. Esses dispositivos transmitem informações importantes para a transparência da pesca mundial, como o nome da embarcação, sua nacionalidade e localização.
Assim, a análise da Oceana revelou que:
- Em 2023, a China estabeleceu uma restrição de pesca em uma pequena área ao Norte do Oceano Índico na qual sua frota aparenta ter pescado, em 2022, por somente 21 horas.
- Em 2020, a China estabeleceu uma restrição de pesca em uma pequena área a Leste do Oceano Pacífico na qual sua frota aparenta ter pescado, em 2019, por somente 38 horas.
- Em 2020, a China estabeleceu uma restrição de pesca em uma pequena área no Sudoeste do Oceano Atlântico na qual sua frota pesqueira aparenta não ter atuado em 2019.
“É um insulto aos pescadores honestos e aos governos de todo o mundo que tomam medidas reais para proteger nossos oceanos e aqueles que dependem deles. Essas manobras de relações públicas são exemplos perfeitos de como agentes ruins podem saquear e sobrepescar nossos oceanos, enquanto anunciam falsas medidas de conservação para esconder seus rastros. É mais uma prova de que é necessário aumentar a transparência da pesca para acabar com esse tipo de propaganda enganosa”, aponta o diretor de campanhas da Oceana.
Atuação chinesa
A China possui uma das maiores frotas de pesca em águas distantes no mundo, com cerca de 11 mil embarcações desse tipo detectadas pelos dispositivos de AIS. Quando essas frotas se concentram principalmente na pesca não regulamentada e sem monitoramento, como acontece com a pesca internacional de lulas, isso representa uma ameaça significativa para os ecossistemas oceânicos de todo o mundo.
Além disso, é válido destacar que essas grandes frotas pesqueiras que atuam em águas distantes são, geralmente, mantidas por subsídios governamentais, que acabam por incentivar a sobrepesca. A China é o maior provedor mundial desses subsídios, com aportes estimados em US$ 5,9 bilhões. A falta de fiscalização em águas distantes também gera sérias preocupações sobre a saúde dos oceanos e sobre a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada.
A Oceana clama aos governos de todo o mundo que exijam maior transparência e rastreabilidade na importação de frutos do mar, para ajudar na verificação de que são seguros, capturados de forma legal, com origem responsável e rotulados honestamente. No Brasil, defende que uma nova lei da pesca garanta o monitoramento e a transparência da pesca para garantir a sustentabilidade da atividade.