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“Oceano é bioma menos considerado em políticas públicas”

Poluição por plástico descartável foi tema do 2º Ciclo de Debates da Década da Ciência Oceânica

Julho 13, 2022

Foto: Oceana

Em audiência pública realizada na tarde de ontem (12/7) pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, representantes do setor pesqueiro e da sociedade civil lamentaram o descaso de governantes e legisladores com a preservação dos oceanos, tanto no Brasil como mundialmente.  

“O Oceano é o bioma menos considerado em políticas públicas”, afirmou o diretor geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), menos de 2% dos orçamentos nacionais para pesquisa são direcionados para a ciência oceânica. Além disso, entre 2013 e 2017, o Brasil esteve entre os nove países que mais reduziram o investimento em pesquisa sobre os recursos marinhos. 

O diretor voluntário da Rede Salve Mar, Daniel Brandt Galvão, apresentou demandas socioambientais das regiões costeiro-marinhas e falou sobre a falta de incentivo às organizações sem fins lucrativos. “Se o Brasil continuar a não investir no terceiro setor vamos terminar como a Década da Biodiversidade – sem nenhuma meta cumprida”, disse.

“O terceiro setor toma protagonismo por necessidade, já que o Estado não executa suas funções”, afirmou Zamboni. “O Brasil tem excelentes pesquisadores e estudos. Mas por que não usamos? É uma decisão não usar [os estudos]”, finalizou. 

Fechar a torneira do plástico

Para diminuir a poluição marinha, Zamboni reforçou a necessidade do Brasil avançar, com urgência, no sentido da criação de uma lei nacional que reduza a produção de itens de plástico de uso único.

Representantes da pesca artesanal também reivindicam uma lei nacional que proponha soluções na raiz do problema. “A gente precisa dessa lei. O lixo chega na praia, e o impacto em nós, pescadores. Esse lixo não vai evaporar”, defendeu Carlos Alberto dos Santos, coordenador da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Marinhas (Confrem).

O Brasil produz cerca de 7 milhões de toneladas de plástico por ano, dos quais 3 milhões são de plásticos descartáveis. Desse montante, 325 mil toneladas de plástico acabam no oceano, a partir de fontes terrestres, segundo dados do relatório “Um Oceano Livre de Plásticos”, publicado pela Oceana em dezembro de 2020.

O cenário é grave e a reciclagem não consegue acompanhar o imbróglio do descarte de resíduos, visto que o plástico perde qualidade à medida que vai sendo reciclado e itens descartáveis não têm valor para o mercado. “A política que está em vigor hoje só tem olhado para o fim do ciclo de vida do plástico – quando o produto já virou resíduo. O Brasil tem baixíssimas taxas de reciclagem, não estimulamos o reuso e sequer endereçamos a não geração desse resíduo problemático e evitável”, explicou Zamboni.

“O consumo consciente parte do pressuposto de que alternativas ao plástico descartável estão à disposição do consumidor. Mas o que vemos é uma abordagem desigual, em que produtores do resíduo não são responsabilizados. O caminho do plástico está fácil de ser resolvido, e começa pela Economia Circular”, finalizou o oceanólogo.

Década da Ciência Ocêanica

Proposto pela Frente Parlamentar Mista em Defesa do Litoral Brasileiro, a Audiência Pública teve como objetivo debater a implementação da Década da Ciência Oceânica, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2021.

A década – que se encerrará em 2030 -, tem o objetivo de unir esforços de todos os setores relacionados ao mar para reverter o ciclo de declínio na saúde do oceano e criar condições para garantir a exploração sustentável dos recursos marinhos.