Plástico está em todos os ecossistemas marinhos, revela expedição
Novembro 23, 2020
Uma expedição científica da Oceana documentou plásticos em todos os habitat marinhos estudados durante uma semana de pesquisa ao longo da costa de Valência, na Espanha. A tripulação do Ranger, catamarã da organização, analisou vários tipos de fundos, sempre encontrando um denominador comum entre eles: a presença de todos os tipos de plásticos em diferentes profundidades.
Entre os elementos mais documentados estão plásticos de uso único, como sacolas, recipientes de comida, embalagens, talheres e copos, além de equipamentos de pesca abandonados. No entanto, também foram observados materiais sanitários, como máscaras e luvas descartáveis, assim como outros tipos de lixo. Esses achados mostram que o uso excessivo de plásticos descartáveis está sufocando os oceanos de forma alarmante.
“A maioria dos plásticos que chegam ao oceano acabam nas profundezas do mar. Apesar de invisíveis aos nossos olhos, eles têm um impacto irreversível nos ecossistemas marinhos e mudam seriamente o comportamento da vida selvagem”, afirma o diretor de Expedições da Oceana na Europa, Ricardo Aguilar. ”Além disso, a falta de luz e as baixas temperaturas em áreas profundas atrasam o processo de degradação, de modo que os plásticos podem permanecer intactos por séculos”, explica.
Armadilhas de plástico
Cientistas e mergulhadores da Oceana analisaram uma dúzia de habitat, incluindo corais, fundos arenosos e florestas de algas. Eles têm feito isso com a ajuda técnica de scooters subaquáticos para alcançar mais distância e de um drone para alcançar mais profundidade. Depois de 15 anos documentando a biodiversidade marinha e encontrando plásticos em todos os mergulhos, a Oceana dedicou uma expedição exclusiva a essa finalidade. O objetivo era verificar como a presença de plásticos transforma áreas ricas em flora e fauna em verdadeiros aterros marinhos a poucos quilômetros da costa.
O Mediterrâneo é o mar mais contaminado por plástico do mundo devido a sua profundidade, natureza semi-fechada e a grande presença de elementos topográficos subaquáticos que atuam como armadilhas de plástico e facilitam o acúmulo de lixo nos leitos marinhos. Nesse sentido, os pesquisadores da Oceana explicam que, quando chegam ao oceano, os plásticos muitas vezes seguem o mesmo padrão: em áreas mais próximas da costa geralmente há plásticos maiores, mas se fragmentam e afundam como resultado da ação das correntes marítimas, ação da água salgada e luz do sol.
A diretora da campanha de Plásticos da Oceana na Europa, Natividad Sánchez, observa que “fazer esta expedição fora da temporada turística e no meio da pandemia mostrou que o problema é o uso indiscriminado de itens descartáveis em nosso dia a dia. A grande maioria dos plásticos que encontramos são sacos, vasilhas descartáveis e embalagens de alimentos. É por isso que estamos pedindo uma ambiciosa transposição da Diretiva Europeia de plásticos de uso único, que entrará em vigor em julho de 2021″ – a medida, que deve aplicar a Diretiva enquanto legislação nacional permitirá a efetivação da redução proposta.
Brasil precisa de legislação reduzindo o uso de plásticos descartáveis
A Oceana defende a redução na produção de plástico de uso único como único caminho possível para diminuir a sua poluição no oceano. “O oceano pode alimentar um bilhão de pessoas todo os dias, mas para isso precisamos restaurar sua abundância e eliminar qualquer fonte de poluição, principalmente por plástico”, enfatiza a cientista marinha da Oceana no Brasil, Lara Iwanicki.
O Brasil é o maior produtor de plástico da América Latina, sendo 44% da produção destinada para produtos de uso único (embalagens em geral e produtos descartáveis). Com baixas taxas de reciclagem, em torno de 7,5%, e sem uma legislação federal que limite o uso desses materiais, é inegável que o país contribua para a poluição marinha com grandes volumes de resíduos plásticos.
“Sem mudanças imediatas na forma como usamos e abusamos dos plásticos, a quantidade total de resíduos desse material deve dobrar até 2025. O nosso país precisa urgentemente de uma legislação federal eficiente para regular a produção de plásticos, principalmente os descartáveis”, alerta Lara Iwanicki.