“Precisamos de um auxílio emergencial para a sobrevivência e dignidade dos pescadores e pescadoras” - Oceana Brasil
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“Precisamos de um auxílio emergencial para a sobrevivência e dignidade dos pescadores e pescadoras”

Gilmar Coelho, presidente da Federação de Pescadores e Pescadoras do Rio Grande do Sul, avalia o impacto da enchente

Maio 22, 2024

Nessa série especial do Oceana Entrevista, conversamos com diferentes lideranças da pesca no Rio Grande do Sul sobre as enchentes que devastaram o estado neste mês de maio. Confira abaixo a conversa com Gilmar Coelho, da Federação de Pescadores e Pescadoras do Rio Grande do Sul.

Clique aqui para ler a entrevista com Alexandre Carinha Novo, do Sindicato dos Armadores de Pesca.  

Oceana // Hugo Lira
Gilmar Coelho, da Federação de Pescadores. Oceana // Hugo Lira

Enquanto conversa com o Oceana Entrevista, Gilmar da Silva Coelho, presidente da Federação das Colônias de Pescadores e Aquicultores do Rio Grande do Sul, monitora apreensivo o aumento do nível da água tanto no lago Guaíba (que chegou a subir 5,33 metros, no dia 7 de maio, o ápice histórico) quanto na Lagoa dos Patos, importante ecossistema para a pesca artesanal no estado. Diariamente, ele acompanha de perto a situação de 18 mil pescadores e pescadoras que acumulam perdas por conta das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul no início de maio. Estão não só impedidos de exercer o ofício, mas também de pensar o futuro, hoje, repleto de incertezas. Gilmar aguarda algum posicionamento do Ministério da Pesca e da Aquicultura (MPA) sobre o pedido de auxílio emergencial para esses trabalhadores. “Só não pode acontecer o que aconteceu nas outras enchentes. Solicitamos auxílio em três delas e não recebemos nada, só um kit de alimentação”.

 Qual o impacto desses eventos climáticos extremos que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul (RS) para as comunidades pesqueiras e para o setor produtivo? Já é possível dimensionar? Quais os pontos mais críticos?

As mudanças climáticas estão afetando profundamente o Rio Grande do Sul. Em oito meses, foram três enchentes. Essa última foi superior à histórica de 1941. Vimos uma destruição geral que afetou quase todas as regiões. Os pescadores e as pescadoras artesanais perderam as suas casas, os materiais de pesca (os chamados petrechos) e, consequentemente, a renda.  Não sabemos como vai ficar a comercialização daqui por diante. A certeza que temos é de que o pescador e a pescadora artesanal são resistentes e vão sobreviver. Mas precisam de ajuda.

Nesse momento, não estamos conseguindo acessar as informações para que acessem os benefício com agilidade na ponta.

Que tipo de ajuda os trabalhadores da pesca precisam receber dos governos municipal, estadual e federal? Essa ajuda tem chegado?

Precisamos de um auxílio emergencial para a sobrevivência e dignidade dos pescadores e das pescadoras. Eles precisam de uma verba de sobrevivência e alguma ajuda para recompor os petrechos. Só não pode acontecer o que aconteceu nas outras enchentes: solicitamos auxílio em três enchentes e não recebemos quase nada, só um kit de alimentação.

Precisamos de um auxílio robusto para dar dignidade aos pescadores e às pescadoras. Encaminhamos o pedido de auxílio, precisamos desburocratizar essa situação.

Em termos socioeconômicos, quais as consequências das enchentes para a cadeia produtiva da pesca? O que esperar do restante de 2024 para o setor?

Não sabemos se ainda teremos pescados para essa safra.. Como vamos pescar? Não sabemos. Muitos compraram barcos, outros renovaram as embarcações, investiram em redes novas por meio de programas de financiamento, que precisam ser imediatamente anistiados ou prorrogados. Acreditamos que vai ter uma mudança nas águas, vai voltar a ter pescado em alguns territórios, mas em outros, não.

Tudo vai depender de como será esse futuro.

O estuário da Lagoa dos Patos e a área costeira do Rio Grande do Sul foram severamente impactados pelas enchentes. O que esperar destas regiões no futuro próximo? Há expectativa de abundância de pescados ou um cenário de escassez?

A Lagoa das Patos vai demorar a voltar à normalidade. Não se sabe se o pescado migrou. O certo é que hoje não há como pescar. Vai levar tempo. Meses, talvez.  E se parar a chuva agora? E se voltar a chover entre setembro e outubro quando o camarão e os peixes entram na Lagoa? Provavelmente, não vai ter safra de camarão neste ano. Se estabilizar, vêm a corvina e a tainha. No ano passado, não teve safra de camarão, e pescadores e pescadoras ficaram desamparados.

Agora, é um tempo de incertezas.