Relatório da Oceana aponta até 57% de gelo em camarões vendidos no México
Abril 13, 2020
Estudo realizado pela Oceana em supermercados da Cidade do México revela que 98% dos peixes e camarões congelados contêm uma camada de gelo superficial, que o consumidor paga como se fosse pescado. Os campeões da fraude foram o panga, a tilápia e os camarões importados, produtos com mais de 30% de água congelada.
A Oceana México afirma em seu relatório que o consumidor está pagando por água congelada sem saber, o que se trata de fraude, porém, a técnica de cobertura não é ilegal, pelo contrário, é uma prática que mantém a qualidade do produto. O que é um engano, ressaltam, é cobrar por ela como se fosse um pescado.
Do total de filés de pescado e camarões importados, o consumidor paga, em média, 30% por água congelada. Ou seja, para cada quilo de filé e camarões congelados recebe apenas 700 gramas. O pior caso encontrado foi um quilo de camarão importado: desse quilograma, 57% era de água congelada – o que significa que só foram vendidas 430 gramas de camarão, o restante era gelo.
As análises mostram, ainda, que os produtos importados contêm mais água congelada do que os nacionais no México. Apesar de serem vendidos por um preço menor, os produtos que entram no mercado mexicano acabam custando mais para o consumidor devido à alta quantidade de água congelada.
De acordo com o relatório, a ausência de regulamentações e para proteger os consumidores dessa prática fraudulenta afeta os bolsos dos mexicanos e gera concorrência desleal para os pescadores e aquicultores no país.
A Oceana propõe a construção de um marco legal no México que dê segurança à cadeia de pescado e aos consumidores com a participação de todas as autoridades envolvidas. Para a equipe da Oceana no México, é urgente instituir uma política de rastreabilidade dos frutos do mar desde o barco pesqueiro até o prato, garantindo que os consumidores não recebam ‘gato por lebre’.
Em 2019, outro estudo realizado pela Oceana no México apontou mais um tipo de fraude: a venda de uma espécie por outra.
Metodologia
A pesquisa “Gato por lebre: água por pescado” coletou 82 amostras de pescados congelados e camarões em 10 diferentes supermercados na Cidade do México. O estudo também analisou o impacto que a cobertura de gelo tem no preço dos produtos.
O peso líquido de camarões e filés de peixe congelados foi determinado pela pesagem do produto recém tirado da embalagem. Em seguida, a cobertura de gelo foi removida e o produto pesado imediatamente, mantendo o pescado congelado para determinar seu peso real.
O estudo observa que vender produto sem indicar o peso adicionado pela cobertura de gelo é uma forma de enganar os consumidores que não têm informações suficientes para tomar decisões de compra.
Embora a pesquisa tenha encontrado cobertura de gelo na maioria dos frutos do mar congelados, as análises realizadas não distinguem quem é o responsável por esse engano. Tampouco é possível determinar em que ponto da cadeia comercial ocorre a fraude.
Brasil
No Brasil, também não há rastreabilidade efetiva dos pescados comercializados. A Oceana defende que o Brasil implemente sistemas de rastreabilidade para a pesca, assim como os que já existem hoje para outros setores, garantindo procedência e controle de qualidade do que é vendido para o consumidor.
Medidas de controle e rotulagem para identificação correta garantem não só a saúde da população, mas também a proteção de espécies ameaçadas, por exemplo.
Acesse o estudo na íntegra em: www.gatoxliebre.org/glaseado