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Governo e indústria dos EUA não aprenderam com o maior vazamento de petróleo do país – e o Brasil?

Maio 8, 2020

Expansão das perfurações na costa norte-americana ameaça comunidades e vida marinha. No Brasil, desastre com óleo continua sem respostas

A explosão da plataforma Deepwater Horizon, da BP, no Golfo do México, responsável pelo pior vazamento de petróleo da história dos Estados Unidos, completou 10 anos no dia 20 de abril. Relatório da Oceana examina a causa e as consequências da catástrofe e a forma como esses impactos ainda são sentidos hoje. O documento traz ainda análise sobre o comportamento do governo e da indústria em relação à perfuração de poços de petróleo no mar.

Em janeiro de 2018, o presidente Donald Trump propôs expandir a perfuração em quase toda costa dos Estados Unidos. “A perfuração no mar continua tão poluidora e perigosa quanto há 10 anos”, afirmou a diretora de Campanha da Oceana no país, Diane Hoskins. “Em vez de aprender lições com o desastre da BP, o presidente Trump propõe ampliar radicalmente a perfuração no mar, ao mesmo tempo em que desmantela as poucas proteções implementadas como resultado daquela explosão catastrófica”, alertou.

Após a explosão de 2010, que matou 11 trabalhadores da plataforma, o petróleo jorrou do fundo do mar por 87 dias, e mais de 200 milhões de galões foram lançados no Golfo do México. O óleo matou dezenas de milhares de aves, tartarugas marinhas, golfinhos e peixes, e apareceu em 2 mil quilômetros de costa, do Texas à Flórida. Apesar dos trabalhos de remoção, até 60 milhões de galões permaneceram no meio ambiente.

O relatório da Oceana mostra que décadas de segurança precária e controle inadequado por parte do governo construíram as condições para o desastre da BP Deepwater Horizon. Dez anos depois, essas condições não melhoraram, e expandir esse setor para novas áreas coloca em risco a saúde humana e o meio ambiente.

Os cientistas que estudaram o vazamento descreveram grandes áreas perto do local do poço, no fundo do oceano, como um depósito de lixo tóxico. Assim, não era possível encontrar os tipos de vida que normalmente existiam no local. “Foi um evento que atingiu todo o Golfo do México”, disse Tracey Sutton, pesquisadora da Nova Southeastern University. “Ninguém estava preparado para tanta poluição. Até onde sabemos, o impacto crônico do vazamento ainda não acabou.”

A Oceana constatou que o impacto ambiental do desastre da Deepwater Horizon no Golfo foi de uma magnitude nunca vista:

  • Durante cinco anos, mais de 75% dos casos de prenhez entre golfinhos na área atingida não chegaram ao fim.
  • O número de baleias-de-Bryde, uma das espécies mais ameaçadas do mundo, diminuiu cerca de 22%.
  • Cerca de 800 mil aves morreram, incluindo 32% das gaivotas-alegres (Leucophaeus atricilla) e 12% dos pelicanos-marrons.
  • Até 170 mil tartarugas marinhas foram mortas pelo vazamento.
  • Cerca de 8,3 milhões de ostras foram mortas, e certas populações de peixes, camarões e lulas diminuíram em até 85%.

A Oceana concluiu ainda que o litoral do Golfo do México sofreu perdas econômicas significativas após o desastre.

  • O setor de lazer como um todo perdeu mais de 500 milhões de dólares e mais de 10 milhões de dias de uso em atividades de praia, pesca e navegação.
  • As pescarias foram fechadas e a demanda por frutos do mar do Golfo despencou, custando a essa indústria quase 1 bilhão de dólares.
  • O declínio dos preços nos mercados imobiliários da região ficou entre 4% e 8% e durou pelo menos cinco anos.

O relatório aponta também os riscos de perfurar poços de petróleo no mar não se limitam a desastres imensos como o da BP Deepwater Horizon, e que podem ocorrer vazamentos durante todas as fases do processo, incluindo exploração, produção, transporte e uso. Em 2016, havia 2.165 plataformas no mar e mais de 42 mil quilômetros de oleodutos no Golfo – mais do que o suficiente para contornar a Terra.

 

BRASIL

Uma decisão do presidente do Ibama contrariando o corpo técnico do próprio Instituto autorizou, em abril de 2019, o leilão de sete blocos para exploração de petróleo em região próxima ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos, maior complexo de recifes de corais do Atlântico Sul, na Bahia.

A Oceana, juntamente com Conservação Internacional (CI-Brasil), Rare-Brasil, SOS Mata Atlântica e WWF-Brasil unidas na Conexão Abrolhos e com ativistas, iniciou uma mobilização para alertar sobre os riscos para uma região de alta sensibilidade ecológica, onde vivem mais de 20 mil pessoas dedicadas à pesca artesanal e ao turismo. O resultado da mobilização foi um sucesso e não houve ofertas para a exploração de petróleo dos sete blocos das bacias de Camamu-Almada e Jacuípe.

Mas o leilão não foi a única ameaça aos ecossistemas marinhos da costa brasileira em 2019. Em agosto, o país foi surpreendido pela chegada de manchas de óleo de origem desconhecida, que atingiram mais de mil localidades, em 11 dos 17 estados costeiros. Considerado o maior desastre ambiental em extensão do Brasil, o evento continua sem respostas sobre sua origem e causa.

De acordo com a organização americana Skytruth, especializada em análises do mar via satélite e que reúne, entre seus fundadores, a Oceana e o Google, mais de 100 navios estavam na costa brasileira nas proximidades do derramamento de óleo quando o desastre aconteceu. 

Encontrar o petroleiro supostamente responsável pelo vazamento tem sido um grande desafio para os cientistas, especialmente porque, de acordo com a Skytruth, as embarcações desligam o localizador ao transitar na região. “Alguns desses navios não transmitem consistentemente um sinal de rastreamento público, o que é uma violação do direito marítimo internacional”, afirmou o presidente da Skytruth, John Amos.

No dia 13 de fevereiro deste ano, os boletins diários sobre a fauna atingida foram suspensos. A última atualização registrou 159 animais oleados, com 112 mortes. Em 20 de março, o coordenador operacional do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC) desmobilizou formalmente a coordenação unificada das equipes envolvidas com ações de resposta e monitoramento do governo federal. De acordo com o governo, a estrutura tornou-se desnecessária e a vida segue à espera do próximo desastre com cada órgão público trabalhando dentro do seu escopo de atuação.

 

ACESSE:

Relatório e estudos sobre o Golfo do México

Informações sobre a Conexão Abrolhos

Blog da Oceana: envio de tonéis para recolher óleo na Bahia