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Maior produtor da América Latina, o Brasil polui o mar com 325 mil toneladas de lixo plástico por ano

Dezembro 18, 2020

Foto: Instituto Mar Urbano/Ricardo Gomes 

A poluição marinha por plásticos é um grave problema global. Estima-se que, anualmente, oito milhões de toneladas desses resíduos cheguem aos oceanos, afetando os ecossistemas marinhos, o clima, a qualidade de vida das pessoas e as atividades econômicas que dependem do mar, tais como a pesca e o turismo. Estudo da Oceana mostra que o Brasil é responsável por pelo menos 325 mil toneladas desses resíduos que são levados a partir de fontes terrestres tais como lixões a céu aberto e descartes inadequados.

O relatório “Um oceano livre de plástico – desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil” aponta que a maior parte desse lixo marinho é composta por produtos e embalagens plásticas descartáveis. Revela ainda que, em geral, esses itens não são concebidos, projetados ou colocados no mercado para serem reutilizados ou terem rotações no seu ciclo de vida – são feitos para consumo e descarte imediato, gerando grande quantidade de resíduo não biodegradável.

O Brasil produz cerca de sete milhões de toneladas de plástico por ano, quantidade que coloca o país na posição de maior produtor da América Latina. Desse montante, três milhões de toneladas são de plásticos de uso único colocados no mercado também anualmente. “Após ser descartado, o resíduo plástico percorre diversos caminhos até chegar ao oceano, onde impacta a vida de milhares de animais, desde zooplâncton a mamíferos e aves marinhas, muitas delas já ameaçadas de extinção”, afirma o diretor-geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni.

Em relação aos impactos na vida marinha, o estudo da Oceana aponta:

  • Que no Brasil, ao longo de uma pequena porção da costa (regiões Sudeste e Sul) já foram coletados e necropsiados mais de 3,7 mil animais que ingeriram resíduos plásticos;
  • 10% animais que ingeriram plástico morreram por conta disso;
  • e desses, 85% são espécies ameaçadas de extinção.

Com 10.959 quilômetros de costa, segundo o Anuário Estatístico 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem o dever de trabalhar pela redução do lixo plástico. Uma prova da chegada desses poluentes na costa é o estudo que mostra que 70% dos materiais e fragmentos coletados em limpezas de praia no litoral brasileiro são de plásticos, principalmente embalagens. “Nada do que se propôs até aqui deu, ou dará, conta de resolver esses problema, pois nenhuma solução passa pelo ponto principal – a redução da produção e oferta de plásticos.  Precisamos de uma lei nacional para diminuir progressivamente a oferta de plásticos descartáveis, assim como ter empresas e estabelecimentos comerciais atentos à demanda de consumidores cada vez mais conscientes, oferecendo seus produtos e serviços sem esse material. Os estabelecimentos podem, por exemplo, se tornar zonas livres de plástico”, explica Zamboni.

A indústria brasileira produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis tais como copos, talheres, sacolas plásticas, e embalagens para as mais diversas aplicações. São 15 mil itens por segundo. Com pouca reciclagem, a maior parte acumula-se em aterros, lixões – mas uma parcela muito importante vai mesmo é para o meio ambiente. Diante desse cenário a Oceana propõ:

  • A criação de uma Lei nacional para reduzir a oferta e uso de plástico descartável: É urgente uma legislação robusta, inspirada em políticas, leis e boas experiências internacionais, visando reduzir a geração de resíduos evitáveis, problemáticos e desnecessários de plástico, seguindo o exemplo de mais de 40 países no mundo.
  • Oferta de alternativas sem plástico para o consumidor: As empresas devem oferecer aos consumidores opções sem plástico para seus produtos e embalagens, a um custo similar ou menor do que as embalagens hoje utilizadas.  Isso significa que as empresas precisam substituir os produtos descartáveis e embalagens por opções reutilizáveis, comprovadamente biodegradáveis ou compostáveis, e inovar e investir em sistemas de entrega com embalagens retornáveis ou reutilizáveis.
  • Criação de Zonas livres de plástico: A Oceana propõe a criação de áreas onde não são fornecidos, comercializados ou utilizados plástico de uso único, podendo ser desde escritórios corporativos e do governo, aeroportos, escolas, hotéis, bares de praia, até festivais, eventos ou cidades, por exemplo. Podem ser implementadas pelas comunidades, governos ou estabelecimentos comerciais.

A organização reforça ainda que a abordagem pela redução do lixo plástico precisa ser vista como uma oportunidade para o desenvolvimento de negócios inovadores, novas tecnologias e mercados que favorecem a reutilização de embalagens, parte crucial da solução para a poluição.

“Nosso país precisa de negócios voltados para a economia circular, com o desenvolvimento de soluções que eliminem a produção de resíduos plásticos.”, afirma a engenheira ambiental e cientista marinha da Oceana no Brasil, Lara Iwanicki.

O relatório da Oceana alerta também que, embora a reciclagem seja uma importante etapa do processo de gestão dos resíduos que já foram gerados, sua implementação ocorre de forma mais lenta do que o necessário para o enfrentamento da crise. Globalmente, apenas 9% de todo o resíduo plástico são reciclados. No Brasil, os dados sobre índices de reciclagem de plástico são divergentes e mesmo no melhor cenário mostra que o país recicla menos de um quarto do que gera.

“Infelizmente a reciclagem não acompanha o volume e a velocidade de produção de plástico descartável no país. Agrava o cenário o fato de que esse processo não tem como alvo grande parte dos produtos descartáveis como canudos, talheres, pratos, copos e vasilhas para transporte de refeições. A Política Nacional de Resíduos Sólidos não prevê responsabilidades ou tratamento diferenciado para esses itens. Sem valor para o mercado de reciclagem, os produtos descartáveis se tornam rejeitos e representam um custo para o sistema de gestão de resíduos e impacto para o ambiente”, alerta Iwanicki.

 “Sem mudanças imediatas na maneira como a sociedade está submetida ao uso do plástico descartável, a quantidade desse resíduo que entra no ambiente marinho triplicará nos próximos 20 anos causando ainda mais danos ambientais, sociais e econômicos”, alerta o diretor-geral da Oceana, Ademilson Zamboni.

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