“Ser pescador é a minha vida, eu não conheço outra profissão” - Oceana Brasil
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Setembro 30, 2021

“Ser pescador é a minha vida, eu não conheço outra profissão”

O TEMA: 

Retrato da pesca artesanal na Praia da Redonda, Icapuí/CE. Foto: Christian Braga/Oceana
Jangada no mar

 

Ivan Luiz Ribeiro Laurinto, pescador na Praia de Canto Verde, Beberibe/CE. Foto: Christian Braga/Oceana

Ivan escolheu seguir o caminho de seu pai e irmãos pescadores quando completou 15 anos. Desde então, levanta antes do sol nascer para pescar um dos recursos mais importantes das regiões Norte e Nordeste do país, a lagosta-vermelha (Panulirus argus). A pesca da lagosta conta com aproximadamente três mil embarcações registradas, das quais 62% se concentram no Ceará, principal exportador do pescado. Ali, na sua região, a pescaria gera mais de 250 mil empregos, entre diretos e indiretos. 

Nós, pescadores artesanais, de jangada, pescamos lagosta com o manzuá ou cangaia. Acordo às 2 horas para alimentar minhas galinhas. Às 3h30 já tô esperando os companheiros para gente ir para o mar para trazer a janta para família, para gente sobreviver.

Manzuá
Os pescadores lançam o manzuá a até 30 quilômetros da costa, e no dia seguinte voltam para o mar para recolher as lagostas que caíram na armadilha. Foto: Christian Braga/Oceana

O que é mais difícil na pesca da lagosta é não ter a produção, que cada vez mais vem diminuindo. Tá diminuindo devido à pesca irresponsável. Como é retirado acima do que o estoque pode repor, a tendência é acabar.”

Lagosta-vermelha
A lagosta-vermelha apresenta um ciclo vital complexo, com desova em várias parcelas, mais intensa ao final do verão e outono. Foto: Christian Braga/Oceana

O que é mais difícil na pesca da lagosta é não ter a produção, que cada vez mais vem diminuindo. Tá diminuindo devido à pesca irresponsável. Como é retirado acima do que o estoque pode repor, a tendência é acabar.”

De acordo com um estudo realizado pela Oceana, a pressão pesqueira tem reduzido o tamanho das lagostas capturadas, o que compromete a capacidade da espécie de se reproduzir. Hoje, o estoque da lagosta está abaixo dos 18% de sua capacidade máxima, podendo impactar severamente o futuro da pescaria e de todas as famílias que dependem dela para sobreviver se não houver uma mudança no atual padrão dessa pesca. 

O pescador artesanal faz a parte dele. Ele não traz a miúda. Ele traz a lagosta legal, a grande. Se eu pego a miúda, amanhã não vou ter a grande porque ela vai se acabar. Chega até o momento que ela tá tão pequena que não se reproduz, e se não se reproduz a tendência é se acabar.”

Em dezembro de 2019, pescadores artesanais recomendaram à Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP/MAPA) a adoção de um limite anual máximo de captura para a pesca da lagosta. A medida consiste em determinar a quantidade máxima para a captura dessa espécie a partir de avaliações do seu estoque, que levam em conta, sobretudo, a produtividade da sua população. Esse sistema de limitação para a captura tem se mostrado eficiente em todo o mundo.