Por Nathalia Carvalho
A parceria com a Oceana marcou o aguardado retorno presencial da 20ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, após três anos e meio fora das ruas da cidade por conta das restrições associadas à pandemia de Covid-19. A redução do uso de plástico descartável durante a festa foi o principal propósito dessa iniciativa, considerado um primeiro passo para que a Flip possa se consolidar no futuro como uma Zona Livre de Plásticos (ZLP).
Comemorando 20 anos de existência, a Flip tem promovido diversas mudanças em Paraty, que vão além do evento em si – e a sustentabilidade é um desses valores trabalhados e estimulados na região. Essa vontade por avanços “casou” muito bem com a forma de trabalho da Oceana. Em nossa atuação, defendemos soluções concretas e palpáveis para a proteção de nossos mares e, na campanha contra a poluição marinha por plásticos, o estabelecimento de Zonas Livres de Plástico (ZLP) é uma delas.
Para explicar a colaboração da Oceana na Flip e também apresentar como a organização atua, na última quinta-feira (24/11), às 18h, Iran Magno, nosso analista de campanhas, participou da mesa-redonda “Preservação, Biodiversidade em Questão”, na Casa M.A.R (Mercado das Artes), localizada na Praça da Bandeira. Além dele integraram a mesa o Secretário de Meio Ambiente de Paraty, Vinícius Soares, e Márcio Rogério Grogião, representante da Secretaria de Agricultura e Pesca. O debate foi mediado pela gestora ambiental e integrante da Secretaria de Meio Ambiente de Paraty, Daniela Oliveira.
Os impactos negativos da poluição plástica para a saúde dos oceanos e da vida marinha, para o bem-estar dos manguezais e para a sobrevivência dos pescadores e pescadoras do estado foram algumas das pautas abordadas durante a mesa-redonda.
“Todos os anos, o Brasil despeja 325 mil toneladas de plástico descartável nos mares. A partir desse cenário, nós entendemos que mudar esse jogo por meio de políticas públicas é urgente”, pontuou Iran Magno.
Segundo o relatório da Oceana “Um Oceano Livre de Plástico”, o Brasil, maior produtor desse material na América Latina, produz todos os anos cerca de 2,95 milhões de toneladas de plásticos de uso único. Além dos prejuízos sociais e ambientais, essa poluição causa impactos econômicos para setores importantes, como pesca e turismo, e traz possíveis riscos para a saúde humana.
“Além disso, muito do que se produz em plástico descartável não possui valor para o mercado de reciclagem. Então, nós estamos, cotidianamente, injetando esse problema no sistema de gestão de resíduos”, afirmou Magno.
O debate também abordou as medidas existentes para solucionar o problema nos manguezais e nos espaços urbanos.
“Junto com a prefeitura, nós temos pensado em novas alternativas de trabalho para reduzir o uso do plástico descartável. Hoje, por exemplo, na Secretaria do Meio Ambiente, não temos mais copos descartáveis, pois temos utilizado o vidro. Fora isso, também pensamos ações junto com a Secretaria de Pesca, como limpezas em nossas praias e manguezais. Precisamos desenvolver medidas mais eficientes para lidar com o problema na cidade”, explica Vinícius Soares, secretário de Meio Ambiente de Paraty.
O impacto dessa poluição também afeta a saúde dos mangues, berçário litorâneo de grande importância para a cidade. Segundo o secretário de Pesca, Márcio Grogião: “A quantidade de lixo interfere muito na saúde dos peixes, mas a questão de Paraty é muito focada nos manguezais. Nós temos um grande berçário marinho dentro desses biomas, então é preocupante a chegada de todo esse lixo por lá.”
ZONAS LIVRES DE PLÁSTICO
Metodologia criada e desenvolvida pela Oceana, as Zonas Livres de Plástico (ZLP) são áreas onde não são fornecidos, comercializados ou utilizados plásticos de uso único – podem ser desde escritórios corporativos, aeroportos, escolas e universidades, hotéis, bares de praia, até festivais, eventos – como a Flip – e cidades inteiras.
Para a implantação dessa mudança, a Flip contou com a instalação de bebedouros em áreas estratégicas, além da distribuição de cerca de 10 mil copos de papel para as equipes de produção e montagem do evento. Além disso, no Auditório da Matriz – um dos principais espaços do evento, com uma grande circulação de pessoas -, foi estabelecido o impedimento da entrada de garrafas PET, copos e sacolas descartáveis. Esse marco inaugural incluiu essas substituições e também vai contar com o mapeamento de onde estão os desafios para, no futuro, a maior Festa Literária do país de fato se consolidar como uma ZLP.
“A Oceana defende e trabalha por soluções concretas. Um evento de grande porte e projeção nacional como a Flip se disponibilizar a entender e reverter seu impacto demonstra que a mudança é, sim, possível. Esse exemplo só reforça o que acreditamos: reduzir o consumo de plástico descartável é possível, urgente e necessário”, conclui Iran.
Fotos: Oceana / Nathalia Carvalho
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