Dezembro 15, 2021
Lugar de mulher é no oceano!
Por: Beatriz Ribeiro
O TEMA:
Seguir suas mães e avós pescadoras é uma “tradição” um tanto comum no Nordeste brasileiro, e ensina muito além do que as artes dessa atividade, como a própria autoestima
Em meio às falésias, a jangada “Sidneia” avança rumo ao alto mar antes mesmo do dia raiar. A pequena e tradicional embarcação recebeu o nome da filha que, entre 13 irmãos e irmãs crescidos na cearense Praia da Redonda, em Icapuí, não enjoava quando ia pescar. Muito à vontade no mar desde sempre, Sidneia Lusia da Silva aos 10 anos já sabia qual seria o seu destino: ser pescadora! “Eu acordo e olho pro mar e o mar me dá uma força que eu nunca encontrei em lugar nenhum”, revela.
No entanto, a pesca da lagosta, principal meio de sobrevivência de Sidneia, está à beira de um colapso. Faça chuva ou faça sol, a pesca é onde eu tiro o meu sustento e o que me faz feliz”, declarou. Mas ela compartilha uma grande preocupação: “a cada ano que passa, a pesca da lagosta tá diminuindo mais em relação ao próprio homem que não respeita o meio ambiente”, lamentou. Para contornar a situação, pescadores e pescadoras artesanais recomendam a adoção de um limite anual máximo de captura para a pescaria.
A 355 km de Icapuí, em Maxaranguape, no Rio Grande do Norte, a pescadora Gerinalda Nascimento dos Santos criou seus três filhos também graças a essa atividade. “Eu ia com minha mãe [pescar] quando eu era pequena. Eu aprendi com ela, e ensinei meus filhos. Eu amo pescar”, contou. Pescadora há mais de 40 anos, Gerinalda é exemplo para muitas outras mulheres que estão começando a jornada na pesca.
“Eu aprendi muita coisa pescando com as mulheres mais velhas. Elas me ensinaram a conhecer os peixes, e à gente dá o valor, sabe, a si própria”, disse a pescadora Suilene da Silva, de 26 anos. Esse também é o caso da pescadora e presidente da colônia de Muriú, no estado do Rio Grande do Norte, Ana Sales, que encontra contínua inspiração nas mulheres pescadoras ao seu redor. “Uma dá força à outra”, comentou.
A rede de mulheres pescadoras se fortalece a cada dia com lideranças como Jadeir Regina, presidente da colônia de Maxaranguape, no estado potiguar. Com a frase “sem medo de ser mulher” inscrita em sua camiseta, ela conta que as pescadoras ainda sofrem muito preconceito simplesmente por exercerem essa atividade – considerada por muitos ainda como “masculina”. “Eu sou pescadora, vivo disso, estou há 28 anos na pesca e, hoje como presidente [da Colônia], eu gosto de estar na luta brigando para que elas tenham direito, para que elas sejam reconhecidas”, disse.
Apesar de diversos obstáculos, o amor pelo mar e pela pesca são grandes e sempre crescentes. “Tudo que eu tenho até hoje foi a pesca que me deu, eu tirei do mar. Eu respiro o ar que vem do mar”, ressaltou Sidneia. Para Luana Sara, pescadora em Jacumã (RN), a pesca também é fonte de sustento e de felicidade: “É muito gratificante ter o mantimento que Deus nos dá. O prazer de ver aqueles peixes e de entrar nesse mar maravilhoso”.
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