Abril 25, 2025
O que é (e como é) o mar profundo?
Por: Oceana
O TEMA: Save the Oceans, Feed the World
Muito além do que nossos olhos podem enxergar, os oceanos são repletos de riquezas, paisagens incríveis e espécies vivendo nas condições mais inimagináveis. Se pudéssemos mergulhar nos pontos mais fundos do mar, o que encontraríamos? Nesta edição da série Mar Aberto: especialistas respondem, convidamos o pesquisador Paulo Ricardo Pezzuto, oceanógrafo, doutor em Zoologia e consultor da Oceana, para nos ajudar a desvendar alguns desses mistérios.
Qualquer um que esteja desfrutando de algumas horas de lazer ou mesmo trabalhando nas praias do litoral se defronta com a incrível imensidão do mar, cuja percepção, nesses casos, nos é limitada pelo alcance da vista na linha do horizonte. Mas, como sabemos, os oceanos se prolongam muito além desse limite.
Nosso Planeta, contraditoriamente denominado Terra, possui cerca de 70% da sua área recoberta pelas águas dos oceanos Atlântico, Índico, Pacífico, Antártico e Ártico e dos Mares Mediterrâneo e Negro. Isso quer dizer que os oceanos e mares ocupam uma área mais de duas vezes maior do que a de todos os continentes somados, onde nós, seres humanos, vivemos. Cerca de 91% dessa imensidão corresponde ao que se convenciona chamar de mar profundo, ou seja, as regiões onde a profundidade é maior do que 200 metros. Ele constitui, de fato, o maior e mais contínuo ecossistema do nosso planeta. Mas quão profundo é esse mar e como são tais profundezas?
As últimas estimativas realizadas pelos cientistas indicam que a profundidade média dos oceanos é de quase 3.700 metros. Entretanto, isso está longe de significar que eles se comportam como enormes bacias repletas de água salgada, com fundo relativamente plano. Ao contrário, sob a aparente monotonia da paisagem composta pelas ondulações que observamos na superfície dos oceanos, esconde-se um relevo extremamente heterogêneo e complexo formado, assim como nas áreas continentais, por imensas planícies, vales, montanhas, cânions, cordilheiras e outras feições em grande parte invisíveis aos nossos olhos – exceto quando, eventualmente, emergem das profundezas na forma de ilhas.
Essa enorme variabilidade de relevo se manifesta até mesmo pelos seus valores extremos. Enquanto nos continentes a maior elevação situa-se a 8.849 metros acima do nível do mar, no pico do Monte Everest, na Cordilheira do Himalaia, a maior profundidade já medida nos oceanos chega a quase 11.000 metros, na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico.
Enquanto na superfície dos oceanos as ondas e correntes são formadas, em parte, pela ação do vento “empurrando” as águas em variadas direções, o mar profundo é dominado por um gigantesco e fantástico sistema de correntes denominado “circulação termohalina”. Tudo começa no inverno, com o intenso resfriamento do ar sobre os oceanos Ártico e Antártico e com o consequente congelamento das camadas superficiais do mar. Durante o congelamento o sal é “expulso” e o gelo formado contém apenas água “doce”. Isso torna as águas circundantes extremamente frias e salgadas e, portanto, muito mais densas do que eram originalmente, fazendo com que afundem e empurrem as águas das camadas inferiores constituindo, portanto, o grande motor que forma diversas correntes marinhas sobrepostas em toda a imensidão do mar profundo! Obviamente, se a água afunda num lugar, têm que ressurgir na superfície em outros locais. E assim é, fazendo com que lenta e continuamente, áreas profundas e rasas dos oceanos acabem interagindo num vaivém sem fim.
Ao contrário do observado nos continentes, não há vegetais vivendo permanentemente no mar profundo, pois eles necessitam de luz para sobreviver. A luz solar que incide sobre a superfície do oceano perde progressivamente a sua intensidade à medida que penetra na coluna d’água até se extinguir completamente. No mar profundo reina a escuridão absoluta. Ou quase! Isso porque algumas espécies de peixes, crustáceos, moluscos e outros animais possuem bioluminescência, um mecanismo similar ao dos vaga-lumes, que permite a comunicação por meio de lampejos de luz produzidos por eles mesmos.
A ausência de luz e, portanto, de vegetais, traz um enorme problema para a manutenção da vida nessa imensidão profunda: a escassez de alimento. A vida na Terra depende em grande parte dos vegetais. Por meio do processo denominado fotossíntese, vegetais utilizam gás carbônico e água para produzir seu próprio alimento. Já os animais, por serem incapazes de fotossintetizar, têm que consumir os vegetais ou outros animais que consumiram esses vegetais. É por isso, portanto, que os vegetais são o “combustível” que sustenta a maioria das cadeias alimentares no planeta.
Não havendo vegetais no mar profundo, basicamente não há produção de alimento por lá. Assim, a vida depende de alimento importado dos continentes, ou, principalmente, das camadas superficiais dos oceanos, onde a luz possibilita manter o fitoplâncton (algas microscópicas que são as principais responsáveis pela produção de alimento no mar). O problema é que apenas uma pequena fração de toda a matéria orgânica disponível na costa ou na superfície chega ao mar profundo, já que ela é consumida por outros organismos ou decomposta antes de atingir o fundo. Consequentemente, a biomassa no mar profundo é muitas vezes menor do que na zona costeira ou nas camadas superficiais do mar.
Apesar disso, o mar profundo apresenta uma diversidade enorme de espécies (provavelmente na casa de milhões) altamente adaptadas a esse ambiente desafiador. No entanto, em sua grande parte, elas ainda são desconhecidas ou pouco estudadas, o que nos impõe a missão importantíssima de seguir estudando (e protegendo) essas regiões de profundidade.
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