O que são os microplásticos - e há motivos para preocupação? - Oceana Brasil
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Maio 23, 2025

O que são os microplásticos – e há motivos para preocupação?

Por: Oceana

O TEMA: Plásticos

A presença do plástico já foi verificada em diversos outros órgãos vitais do corpo humano, como coração e fígado, além do sangue, da placenta e do leite materno. Foto: SivStockMedia.

 

Das maiores profundezas aos perigos mais invisíveis e avassaladores, a série Mar Aberto: especialistas respondem nos convida a refletir tanto sobre a beleza dos oceanos como sobre os desafios para garantir a sua restauração. Nesta edição, a cientista sênior da Oceana, Kimberly Warner, nos explica o que são os microplásticos e por que eles se tornaram foco de tantas pesquisas científicas ao redor do mundo – preocupadas com a saúde humana e a do planeta.

Doutora em ciências marinhas, estuarinas e ambientais pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Warner pesquisa e desenvolve, desde 2005, a base científica para as campanhas da Oceana sobre contaminações e fraudes no comércio de pescado e, atualmente, também se dedica a apoiar a campanha internacional sobre poluição marinha por plásticos.*

 

Kimberly Warner, cientista sênior da Oceana. Foto: Oceana/Carlos Suarez

Quando pensamos na poluição plástica no oceano, é natural imaginar garrafas e sacolas plásticas espalhadas pelas praias, flutuando sobre as ondas ou ameaçando a vida marinha. Mas há um lado mais sutil e ainda assim preocupante dessa poluição: as partículas de microplástico, menos visíveis, e agora encontradas em todo o oceano e em praticamente todos os lugares da Terra.

Mas o que são os microplásticos? Como o nome já diz, são pequenos pedaços de plásticos, com até cinco milímetros de tamanho. Essas partículas podem ser ainda significativamente menores, não chegando a um micrômetro de tamanho – chamadas de nanoplásticos, são menores até do que uma célula do nosso sangue e impossíveis de se ver a olho nu. Com as ferramentas disponíveis aos cientistas atualmente, a pesquisa de nanoplásticos ainda é muito difícil, mas é possível que eles sejam até mais comuns do que os microplásticos.

Os cientistas consideram os microplásticos um grupo heterogêneo de contaminantes porque há uma enorme variedade de tamanhos, formas, cores, tipos de plásticos e produtos químicos usados em sua fabricação. Isso inclui fragmentos rígidos e flexíveis, pequenas esferas, fibras, flocos e espumas. Alguns deles vêm de produtos aos quais sequer fazemos uma associação direta com o “plástico”, como pneus, tintas e roupas sintéticas.

A maioria dos microplásticos no oceano se origina da fragmentação de itens plásticos maiores, como sacolas ou garrafas. A luz solar, o calor e o atrito atuam para quebrar esses materiais em pedaços cada vez menores. A tensão exercida sobre as linhas de pesca desprende suas fibras plásticas, e algo semelhante acontece quando lavamos e vestimos roupas sintéticas. Os pneus se desgastam lentamente e soltam pedaços de plástico à medida em que dirigimos um carro. Quando a tinta é aplicada por jateamento em navios, casas e estradas, ou ainda quando é desgastada pelo tempo, ela também produz flocos e fragmentos de microplástico. São muitos os objetos de plástico que liberam essas minúsculas partículas no meio ambiente, afetando os organismos ao seu redor.

Ainda há alguns microplásticos produzidos intencionalmente, que podem chegar nos cursos d’água e, posteriormente, serem conduzidos ao oceano. Isso inclui glitter, confetes, além de minúsculas microesferas adicionadas a produtos de limpeza e de higiene pessoal, como pasta de dente, e cosméticos.

Muitas vezes, o transporte dos pellets de pré-produção – pequenos grãos de plástico produzidos industrialmente, utilizados na fabricação de outros produtos e exportados por todo o mundo – envolve perdas e derramamentos que também poluem cursos d’água e oceanos. Um caso emblemático ocorreu na costa do Sri Lanka em 2021, quando um navio cargueiro pegou fogo e afundou parcialmente, derramando quase 1.700 toneladas de pellets e matando inúmeros animais marinhos que os confundiram com comida. Infelizmente, ainda não existem regulamentações no mundo para lidar com esses vazamentos – e esse é problema que a Oceana vem atuando para mudar.

Embora os impactos dos microplásticos sejam entendidos como algo novo para muitos de nós, eles existem há, pelo menos, meio século. Ainda em 1972, cientistas coletaram pellets de plástico na costa nordeste dos Estados Unidos e relataram sua ingestão por peixes e invertebrados. Desde então, aprendemos que muitos contaminantes tóxicos encontrados na água são atraídos e se conectam aos microplásticos. Essa carga tóxica se soma a milhares de produtos químicos, muitos deles perigosos, que são deliberadamente adicionados aos plásticos e acabam nos microplásticos. Esses químicos podem se desprender dos microplásticos quando ingeridos por humanos e animais na natureza, e há registros de pelo menos 1.300 espécies que já fizeram isso.

O termo “microplástico” não existia na literatura científica até 2004. Antes disso, a quantidade desse material coletada por cientistas já havia quadruplicado ao longo de trinta anos.

A estimativa mais recente é de que 171 trilhões de microplásticos estejam flutuando no oceano. E, como nem todo plástico flutua, eles também são encontrados nas profundezas do mar, acumulando-se até mesmo nas fossas mais profundas.

A quantidade de pesquisas sobre microplásticos explodiu na última década, e agora sabemos que esses pequenos fragmentos de plásticos estão em toda parte: na terra, na água doce, derretendo em geleiras, em nossos alimentos, circulando no ar e nas nuvens, e também dentro de nossos corpos. Eles são até exalados pela respiração dos golfinhos.

Os cientistas estão preocupados com o que os microplásticos podem causar aos ciclos naturais da Terra e com os riscos que eles representam para a nossa saúde e para a biodiversidade. Já foram encontrados microplásticos tanto em bebês humanos quanto em tartarugas recém-nascidas. É pertubador o fato de que eles continuarão aumentando à medida que a enorme quantidade de plástico em uso for se decompondo. Por isso, é urgente conter o tsunami da crise global de poluição plástica. Agora é a hora de agir!

*Artigo de Kimberly Warner, originalmente publicado na Oceana Magazine de 2025.