Sam Waterston, a voz em defesa dos oceanos - Oceana Brasil
Inicio / Blog / Sam Waterston, a voz em defesa dos oceanos

Janeiro 12, 2021

Sam Waterston, a voz em defesa dos oceanos

Por: Oceana

O TEMA: 

 

Foto: © OCEANA / Tom Vickers

O presidente do Conselho Diretor da Oceana e estrela das séries “Law & Order” e “Grace and Frankie”, o ator Sam Waterston concedeu entrevista ao site brasileiro Ecoa/UOL . Acompanhado pelo diretor-geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni, Waterston falou sobre a sua atuação pelas causas ambientais e destacou o trabalho realizado pela Oceana, como o combate à poluição marinha por plásticos, a promoção da pesca sustentável e a campanha para aumentar a transparência nos dados pesqueiros. Nascido em Cambridge, Massachusetts, em 1940, o ator é testemunha dos danos que a má gestão da pesca causa à vida das cidades litorâneas desde a segunda metade do século 20.

A seguir, trechos da entrevista:

Soluções para um futuro melhor

Buscar soluções é via principal da Oceana, desde sua concepção ela tem definido objetivos e medido seu sucesso pela realização de metas. Tem sido bastante difícil, mas alguns de seus resultados gigantescos têm sido espantosos para mim, como a oposição à extração de petróleo offshore nos Estados Unidos que teve um grande sucesso – e sou o primeiro a admitir que no começo pensei “bem, somos muito pequenos e eles são grandes demais”. Mas, no fim das contas, a ciência é persuasiva e a persistência, bastante encorajadora. A história da Oceana deveria ser estimulante para todo mundo, porque é baseada em ciência e em fatos e tem alcançado resultados imensos num mundo que inicialmente se mostrou indiferente a ciência e fatos. Então, mesmo nesse contexto tem feito um ótimo trabalho. Me sinto privilegiado demais de fazer parte disso.

Sobrepesca

Eu sabia que havia problemas, porque cresci em New England e sei exatamente quando tive essa noção. Eu estava sentado na praia, lendo o jornal, e vi que a pesca de bacalhau tinha entrado em colapso na região nordeste. Mas eu não sabia o que poderia fazer a respeito, e muitos anos se passaram até que meus amigos Keith Addis, que é membro do conselho, e Ted Danson, que é um dos “pais fundadores” da Oceana, me apresentaram. E, então, tinha algo que eu podia fazer sobre esse problema gigantesco que não era exclusividade do nordeste [dos EUA], mas que acontecia em todo o mundo. E não era visto como um problema porque a ideia de que o oceano é inesgotável e que você jamais conseguiria esvaziá-lo ainda era vista como sabedoria. E, na Oceana, eu conheci um homem extraordinário, o Dr. Daniel Pauly, que tinha suposto já há algum tempo que as estatísticas que diziam que havia peixe o suficiente e que haveria peixe o suficiente não importava o quanto fosse pescado, tinha algo de falso nesses números. E ele descobriu o que era: que há algumas décadas o peixe disponível estava em declínio. E isso era novidade para o mundo e ainda é. Foi chocante. E foi assim que me envolvi com a Oceana e me sinto muito sortudo.

Poluição marinha por plásticos

No oceano, o plástico vai sendo quebrado em partículas menores e menores e quando chegam a um determinado tamanho peixes e algumas aves marinhas muitas vezes confundem com comida. Seus estômagos acabam cheios desse material não digerível e eles morrem por inanição. É um horror pensar nisso. Quando o plástico é quebrado em partículas menores ainda, ele continua ali, mesmo quando está microscópico continua sendo algo que a gente criou e não existia antes. Quando ainda consegue ser reconhecido como plástico, aves têm suportes de cerveja preso no pescoço e acabam enforcadas até a morte, baleias ficam presas em redes de pesca de plástico e morrem de exaustão porque estão arrastando essas redes por quilômetros.

Somente a reciclagem não resolve o problema

Os plásticos têm se tornado um problema cada vez maior. E parte do motivo é que mesmo para pessoas conscientes, a solução da reciclagem proposta até agora não chega a ser nem uma solução para esse desastre crescente que é o plástico. Reciclagem é algo totalmente inapropriado para o problema. (…) Globalmente, apenas 9% de todo o plástico produzido está sendo reciclado. E no Brasil isso é ainda pior: só 7,5%. A quantidade de plástico tem crescido exponencialmente enquanto a reciclagem está chegando a uma porcentagem muito pequena. Então é uma receita para o desastre.

Conexão entre problemas ambientais e sociais

É o lema da Oceana: “Proteger os oceanos e alimentar o mundo”. É um propósito ambiental com um propósito social ou é um propósito social com consequências ambientais. Você pode fazer de um jeito ou de outro, como preferir. Estão totalmente unidos, são um só na verdade. É a defesa da Oceana há anos, porque se os oceanos voltassem a serem saudáveis – e não estou falando no máximo da saúde, estou falando em produção sustentável, que é bem abaixo do que os oceanos poderiam produzir se fossem deixados quietos. Uma das histórias sobre bacalhau que me veio à mente quando li sobre notícia no jornal em Rhode Island foi uma de Henry David Thoreau, nosso grande americano naturalista, o primeiro naturalista, que contava histórias de que era possível andar do seu barco até a praia em Maine, caminhando sobre os bacalhaus. Eles eram tão grandes que seus pés não ficavam molhados. Se atingíssemos o máximo da produção sustentável mundialmente, você poderia alimentar um bilhão de pessoas com uma comida saudável todos os dias até o fim dos tempos.

Leia a íntegra da entrevista na reportagem especial “Como sapos na panela”.