O presidente dos Estados Unidos Donald Trump assinou, no dia 10 de fevereiro, um decreto para que departamentos (como são denominados os ministérios naquele país) e órgãos federais revejam suas políticas de compras de canudos de plástico, retomando a ampla utilização desses produtos. A decisão vai na contramão do compromisso assumido pelo governo Biden no ano passado, que se comprometeu a eliminar gradualmente os plásticos descartáveis de toda a administração federal até 2035 e das operações de serviços de alimentação, eventos e embalagens até 2027.
O governo dos Estados Unidos é o maior comprador mundial de bens e serviços, e suas decisões de compra podem ter um impacto global. “O presidente Trump está indo na direção errada em relação aos plásticos descartáveis”, explica a diretora da campanha de plásticos da Oceana no país, Christy Leavitt.
“Esse recente decreto priorizando os plásticos significa problemas para nossos oceanos, nossa saúde e nossas comunidades. O plástico está em todo lugar. Nos oceanos, já chegou até mesmo no ponto mais fundo do leito marinho, e está também na chuva que cai sobre nossos parques nacionais. Termos praias e mares transbordando plástico também é ruim para as empresas e economias costeiras que dependem do turismo. O presidente Trump deveria fazer o que é necessário para proteger a sociedade dessa danosa poluição e colocar nosso país na liderança global do enfrentamento à crise dos plásticos, reduzindo a produção e o uso de descartáveis e migrando para sistemas de reuso”.
Crise global
O plástico já foi encontrado em todos os cantos do planeta e ainda teve sua presença detectada na água potável, na cerveja, no sal, no mel e em frutas e verduras. Ele está em nossos corpos, incluindo sangue, pulmão, coração e leite materno. Também é um dos maiores fatores a contribuir para as mudanças climáticas: se o plástico fosse um país, seria o quarto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Com sua produção crescendo rapidamente, é possível que maiores quantidades sigam inundando nossas vidas, com consequências devastadoras.
Um relatório da Oceana produzido nos Estados Unidos (Sufocados, estrangulados, afogados: a crise dos plásticos que se desenrola nos nossos oceanos, em tradução livre, disponível em inglês), revelou evidências de quase 1.800 animais de 40 espécies diferentes que engoliram plástico ou ficaram presos nele nas águas do país entre 2009 e o início de 2020. Desses, 88% eram de espécies classificadas como em perigo ou ameaçadas de extinção, segundo a Lei de Espécies Ameaçadas (em vigor nos Estados Unidos desde a década de 1970).
No Brasil, a realidade da poluição plástica é bastante semelhante. Segundo o relatório Fragmentos da Destruição: impactos do plástico na biodiversidade marinha brasileira, divulgado pela Oceana em outubro do no ano passado, 85% das espécies marinhas que ingeriram plástico estão em risco de extinção. Além disso, 200 espécies marinhas já foram registradas com ingestão de plástico no país e uma pesquisa com peixes amazônicos de riachos apontou que 98% dos peixes analisados continham plástico ou microplástico no intestino e nas brânquias.
“O plástico não tem fronteiras. O mundo todo precisa de soluções para eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, criando alternativas que reformulem os padrões de produção e de consumo”, aponta a gerente sênior de advocacy da Oceana, Lara Iwanicki.
Segundo a publicação Oportunidades na Transição para um Brasil Sem Plásticos Descartáveis, realizada pela Oceana e pelo WWF-Brasil, a partir de um estudo encomendado à Systemiq, considerando o período de 2025 até 2040, a transição do plástico descartável para alternativas mais sustentáveis pode resultar em uma redução de 8,2 milhões de toneladas de resíduos, com uma diminuição de 18 milhões de toneladas de CO₂ emitido e um aumento potencial de R$ 403 milhões no Produto Interno Bruto (PIB).
Para que isso aconteça, é preciso aprovar políticas públicas que implementem uma Economia Circular do Plástico e evitem o descarte do plástico na natureza, como propõe, no Brasil, o Projeto de Lei 2524/2022. Em tramitação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal desde outubro de 2023, ele propõe eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, com ênfase na transição para alternativas que sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis.
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