“Não temos ideia do que vai acontecer porque nossa geração nunca viveu essa situação”
Alexandre Carinha Novo, presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca do Rio Grande do Sul, detalhe a situação da cadeia produtiva após enchente
Maio 24, 2024
Nessa série especial do Oceana Entrevista, conversamos com diferentes lideranças da pesca no Rio Grande do Sul sobre as enchentes que devastaram o estado neste mês de maio. Confira abaixo a conversa com Alexandre Carinha Novo, do Sindicato dos Armadores de Pesca.
Clique aqui para ler a entrevista com Gilmar Coelho, da Federação dos Pescadores e Pescadoras.
Presidente do Sindicato dos Armadores de Pesca do Rio Grande do Sul (Sindarpes), Alexandre Carinha Novo, detalha ao Oceana Entrevista o tempo de incertezas que a cadeia produtiva da pesca vive na região depois das enchentes que atingiram o estado no início de maio. Com os alagamentos das cidades, as embarcações não conseguem atracar e nem descarregar os pescados, e tiveram que se afastar dos trapiches. O prejuízo é incontável para o setor. “O certo seria calcular todas as viagens perdidas e ressarcir os armadores [que são os proprietários ou operadores de embarcações de pesca comercial].”, disse Alexandre.
Qual o impacto desses eventos climáticos extremos que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul (RS) para as comunidades pesqueiras e para o setor produtivo? Já é possível dimensionar? Quais os pontos mais críticos?
Para os armadores, o período entre 15 de maio e 15 de junho é de defeso [período específico durante o qual a pesca de determinadas espécies é proibida ou severamente restrita]. As embarcações acima de 20AB paralisam a atividade, tempo que não é ressarcido para pescadores e armadores. Neste ano, o evento climático chegou antes do defeso e paralisou as embarcações em plena atividade. Muitas nem conseguiram ficar atracadas no trapiche e tiveram que ser realocadas porque o nível da água ficou muito alto. Essa maré alta inviabilizou o descarregamento do pescado de algumas embarcações.
A paralisação se estende para todas as frentes da pesca. Aliada a essa situação, temos a inundação das casas dos pescadores, que ficam nas comunidades ribeirinhas, e de trabalhadores da atividade. Todo esse cenário é bem complicado.
Que tipo de ajuda os trabalhadores da pesca precisam receber dos governos municipal, estadual e federal? Essa ajuda tem chegado?
Nesse período, as embarcações fazem o que chamamos de estaleiro: a manutenção da pintura, do eixo, da hélice, toda essa parte submersa. Com o nível da água alta, essa atividade foi inviabilizada.
O certo seria calcular todas as viagens perdidas, e ressarcir os armadores. Em relação, aos pescadores e pescadoras, há a sinalização de ajuda estadual e federal.
Em termos socioeconômicos, quais as consequências das enchentes para a cadeia produtiva da pesca? O que esperar do restante de 2024 para o setor?
Não sabemos quanto tempo vai demorar para a normalidade voltar, porque essas embarcações precisam, por exemplo, entrar na Lagoa dos Patos para fazer abastecimento e descarregamento.
O ano de 2024 vai depender dessas condições climáticas para a volta da normalidade no nível da Lagoa dos Patos.
O estuário da Lagoa dos Patos e a área costeira do Rio Grande do Sul foram severamente impactados pelas enchentes. O que esperar destas regiões no futuro próximo? Há expectativa de abundância de pescados ou um cenário de escassez?
Não sabemos o impacto sobre a Lagoa dos Patos. O ecossistema do estuário de água doce foi misturado com esgoto e esse fluxo varreu o lixo pelo caminho. Podemos ter um lastro de esterilidade na Lagoa dos Patos. Não temos ideia do que vai acontecer porque nossa geração nunca viveu essa situação. Só a [enchente] de 1941. A abundância na Lagoa pode sofrer escassez e incertezas.
Essa enchente pode inviabilizar esse ecossistema lagunar, comprometer a pescaria e a entrada dos camarões prevista entre agosto e setembro.