Panamá assume compromisso ousado para reduzir plástico descartável e poluição marinha
É fundamental que outras nações, inclusive o Brasil, sigam o exemplo do país que sedia a Conferência Anual “Our Ocean”
Março 3, 2023
O Ministério do Meio Ambiente do Panamá anunciou ontem (2/3), no início da 8ª edição da Conferência Anual “Nosso Oceano”, compromissos ousados para reduzir a poluição por plásticos. As metas incluem a eliminação gradual de itens plásticos descartáveis, a redução da importação e do consumo de embalagens plásticas e da venda e importação de plástico virgem e de uso único no país.
“Aplaudimos a liderança do Panamá no combate à poluição plástica porque foca em duas das maiores ameaças ao nosso oceano ao mesmo tempo. Os plásticos descartáveis não apenas poluem nossos oceanos, eles também contribuem para a crescente crise climática. Os esforços do Panamá para combater corajosamente a poluição plástica na fonte enviam um forte sinal para o resto do mundo. Esperamos que outras nações participantes da conferência “Nosso Oceano” assumam compromissos igualmente significativos”, declarou a diretora de políticas da Oceana, Jacqueline Savitz.
A Oceana, maior organização internacional dedicada exclusivamente à conservação dos oceanos, tem, insistentemente, convocado os governos a adotarem políticas e medidas para reduzirem a poluição plástica. Durante a Conferência Anual que termina hoje (3/3) na Cidade do Panamá, a Oceana reforçou a demanda para que líderes de todo o mundo estabeleçam compromissos concretos e implementáveis para proteger e restaurar os oceanos do mundo.
Desde 2014, a conferência “Our Ocean” resultou em mais de 1.800 compromissos, totalizando valores acima de 108 bilhões de dólares para a proteção de mais de 13 milhões de quilômetros quadrados.
Crise global do plástico
Hoje, fragmentos de plástico são encontrados na comida, na água e até mesmo no ar. Quando chegam ao oceano, os plásticos se decompõem em pedaços cada vez menores, que são engolidos por diversas espécies, de peixes e tartarugas a focas e aves marinhas, muitos das quais estão ameaçadas de extinção.
Pesquisas da Oceana apontam que as iniciativas de reciclagem não são suficientes para conter essa poluição. Na prática, apenas 9% de todos os resíduos plásticos já gerados foram reciclados. “Os plásticos têm uma profunda falha de concepção: por que usar um material feito para durar para sempre na fabricação de produtos usados uma única vez, geralmente por apenas alguns momentos, antes de serem jogados fora?”, questiona Jacqueline Savitz, diretora de políticas da Oceana.
Mas a poluição não é a única preocupação quando se trata de plásticos. “Os plásticos estão contribuindo para a mudança climática em todas as fases de seu ciclo de vida. Eles contêm substâncias químicas tóxicas que são prejudiciais à saúde. A única maneira de acabar com a crise dos plásticos é conter essa poluição na fonte. Pense assim: quando a pia está transbordando, você não corre para pegar um pano antes de fechar a torneira. A reciclagem é o pano. Precisamos fechar a torneira”, explica Savitz.
Nos últimos anos diversos governos criaram políticas para reduzir a produção e a venda de plásticos descartáveis desnecessários, incluindo Canadá, Chile, União Europeia e o estado da Califórnia.
“Com 15 milhões de toneladas desses resíduos inundando nossos oceanos a cada ano e a expectativa de a produção de plástico triplicar nas próximas três décadas, a hora de agir é agora”, complementa Andrew Sharpless, diretor-executivo da Oceana.
Brasil precisa avançar, com urgência
A produção nacional de plástico de uso único no Brasil é de 2,95 milhões de toneladas por ano. A maioria esmagadora é de embalagens (87%) e o restante de itens descartáveis (13%), como copos e canudos. Por ano, o consumo desses itens de uso único, sem reciclabilidade, bate o estratosférico número de 500 bilhões de unidades. Só em 2018, 10,1 milhões de toneladas de resíduos foram coletados. Segundo o relatório “Um Oceano Livre de Plásticos”, publicado pela Oceana, o Brasil polui o seu litoral com, pelo menos, 325 mil toneladas de resíduo de plástico. Nas limpezas de praias, 70% dos resíduos coletados são de plásticos descartáveis. Dados mundiais apontam que um em cada 10 animais marinhos morre ao ingerir plásticos. Cerca de 90% das espécies de aves e tartarugas marinhas já ingeriram plásticos.
Diante de uma realidade em que o plástico causa graves impactos ambientais, socioeconômicos e à saúde humana, a Oceana trabalha com afinco para que o Congresso Nacional aprove o Projeto de Lei (PL) 2524/2022, em tramitação no Senado Federal, que cria o marco regulatório para a Economia Circular do Plástico.
Um dos princípios da Economia Circular é eliminar os itens de plástico descartável e só disponibilizar aos consumidores materiais que são, comprovadamente, recicláveis, reutilizáveis e/ou compostáveis, oferecendo alternativas ao consumidor e respeitando o trabalho de catadoras e catadores de materiais recicláveis do país.
“O avanço desse Projeto de Lei é urgente para o Brasil, que tem uma responsabilidade significativa na poluição marinha. Ao invés de enxugar gelo, é fundamental que medidas eficazes e soluções concretas baseadas na ciência sejam adotadas pelo Brasil, de modo a reverter a crescente poluição marinha causada por plásticos, que além de ameaçar o meio ambiente e nossa saúde, traz prejuízos econômicos para as cidades e setores importantes do país, como a pesca e o turismo”. avalia Lara Iwanicki, gerente de campanhas da Oceana no Brasil.