“O futuro tem que ser já, não dá para esperar” - Oceana Brasil
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Maio 31, 2022

“O futuro tem que ser já, não dá para esperar”

Por: Oceana

O TEMA: Plásticos

Foto: Acervo pessoal

 

Em quase duas décadas de carreira como atriz na TV brasileira, Laila Zaid provocou gargalhadas na pele de Priscila, na novela Além do Horizonte, e conquistou o público como Bel, uma jovem “sincerona” em Malhação. Nos últimos anos, ela trilha um novo caminho: o do engajamento pela proteção do meio ambiente.

Em 2021, Laila publicou o livro “Manual para Super-Heróis: O Início da Revolução Sustentável”, que pretende inspirar crianças e adolescentes a agirem diante dos atuais desafios socioeconômicos e ambientais. No dia a dia, ela é bastante presente nas mídias sociais, compartilhando críticas e dicas sobre a necessidade de recuperarmos a saúde do planeta e do oceano.

Laila uniu forças à Oceana e ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) na luta contra a poluição por plásticos, que impactam negativamente o meio ambiente e a saúde humana. Através da campanha #DeLivreDePlástico, junto com Maya Gabeira e Mateus Solano, entre outras personalidades, a atriz pressionou, os aplicativos de entrega de comida a assumirem o compromisso de reduzirem a quantidade de plástico descartável em suas entregas.

O que te levou a entrar na luta pela redução do uso de plásticos?

A minha luta contra o uso de plástico vem junto com toda a minha luta pelo meio ambiente, por um consumo consciente, contra os agrotóxicos, pela preservação da floresta em pé, pelos oceanos limpos, etc. Isso tudo vem de uma paixão anterior, pela natureza, que sempre foi estimulada pela minha família e também pelas pessoas com as quais eu vivo. Nós temos uma agrofloresta, onde plantamos o que consumimos no nosso núcleo familiar.

Essa é a minha realidade e é onde vivo mais feliz. Mas é, antes de tudo, a compreensão de que o planeta está se esgotando, não temos mais como usar os recursos naturais como se fossem inesgotáveis… Estamos correndo contra o tempo, precisamos fazer o que for necessário já. Como atriz, eu tinha uma visibilidade nas redes sociais. Resolvi, então, expandir esta luta para esses canais para tocar mais gente. E posso dizer que o plástico é um dos meus maiores inimigos.

Como essa luta se reflete no seu dia a dia e quais são os principais desafios nesse sentido?

No meu dia a dia foi muito fácil eu ir substituindo o plástico, principalmente os descartáveis. Fui praticando atividades corriqueiras, como recusar os plásticos da rua, usar fralda de pano em meus filhos, absorvente de pano, sempre buscando consumir com essa preocupação, com esse olhar. Mas existem plásticos que são inevitáveis, que são aqueles que nos são entregues quando estamos na rua como, por exemplo, quando você pede um delivery. Esse é um desafio grande, porque volta e meia tenho que pedir comida e vem esse monte de plástico dentro da minha casa, e eu fico muito triste. Outro desafio são as embalagens, no supermercado, de itens que não precisariam ser embalados com plásticos, como frutas, legumes, verduras. Inclusive, muitos orgânicos acabam sendo vendidos dessa forma. Faço o máximo, mas existem situações que são inevitáveis.

Você percebe uma abertura para tratar o tema do banimento ou da redução do uso dos plásticos com seu público?

Evitar o plástico é uma das coisas mais fáceis do público aceitar. É mais fácil você convencer uma pessoa de que ela não precisa receber a sacolinha no supermercado do que explicar para ela que parar de comer carne pode ter benefícios ao meio ambiente.  Acho que o meu público, que me segue por conta dessas dicas de sustentabilidade, quer aprender a levar um dia a dia mais sustentável e aceita muito bem essa recusa do plástico.

Claro que é ainda uma transformação muito lenta, mas creio que se tivéssemos uma transformação vindo de cima, com políticas públicas, ou mesmo com a indústria, tomando a iniciativa e evitando o fornecimento desses plásticos, seria muito mais fácil.

De um modo geral, as pessoas estão ávidas por esse processo, elas não querem mais receber plástico. Vocês mesmo, da Oceana, já publicaram pesquisa a esse respeito.

O iFood divulgará em julho suas metas de redução do uso de sacolas, sachês e embalagens nas entregas. Quais suas expectativas a respeito dessas metas?

Não estou muito animada porque acho que o mundo todo já entendeu que a gente tem que ser muito mais ambicioso nas nossas metas ambientais, e muito em breve; mas não vejo as grandes empresas fazendo movimentos reais nesse sentido.

Na minha visão, o iFood tinha que se comprometer, primeiro, em zerar o plástico nas suas operações; e, segundo, se isso não for possível, fazer uma logística reversa intensa. O que, pra mim, que sou radical, não me serve. Eu não acredito na reciclagem do plástico porque ele passa por um down cycling, vai perdendo qualidade [durante o processo de reciclagem]. Por isso, eu acho que, principalmente, os de uso único deviam ser 100% banidos, e já.

Eu fico na torcida, afinal, estamos falando de um aplicativo que tem uma função importante, atende a uma grande parte da população brasileira, mas vejo que ele tem dois graves problemas: a questão ambiental, do uso de plástico, e a questão social, que é a relação deles com a mão de obra que eles usam, sem regulamentação, sem compromissos sérios. Como a sustentabilidade não é só ambiental e sou uma ativista socioambiental, para fazer realmente uma mudança, de verdade, o iFood tem que se estruturar para rever esses dois pilares da empresa. Senão, ela nunca será uma empresa sustentável na prática.  E é válido dizer que o iFood sendo uma das maiores, poderia assumir um protagonismo de um movimento muito lindo e interessante e ser referência mundial de um delivery zero plástico, ambientalmente responsável. Eu seria a garota propaganda deles com o maior orgulho. E acho que o futuro é esse. Já tem pesquisas que falam que as novas gerações, por exemplo, já têm o consumo responsável como uma ideia muito maior, já cobram esse tipo de abordagem das empresas e das marcas. Só que esse futuro tem que ser já, não dá para esperar.