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Janeiro 14, 2021

Na Década dos Oceanos, o alerta veio pelas ondas do mar

Por: Oceana

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Nos primeiros dias de 2021, ano que inaugura a Década do Oceano no calendário da Organização das Nações Unidas (ONU), uma triste imagem flagrada no litoral brasileiro percorreu o mundo. Batizada “tsunami de plástico”, a cena mostra uma quantidade enorme de plástico arrastado pelas ondas da praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, durante uma transmissão ao vivo do biólogo marinho Ricardo Gomes, fundador e diretor do Instituto Mar Urbano, organização não governamental parceira da Oceana.

“É o chamado do oceano, ele está nos mandando um sinal”, disse o biólogo no vídeo. Na imagem, a quantidade de lixo impressiona, com centenas de garrafas, bolas, brinquedos e diversos itens em sua maioria de plástico, um material que nunca se biodegrada – pelo contrário, divide-se em pedaços cada vez menores que ficam para sempre no meio ambiente e prejudicam a vida marinha.

O lixo registrado pela câmera de Ricardo Gomes foi parar na praia por meio dos valões e galerias pluviais após as chuvas que varreram a cidade do Rio de Janeiro naquele 2 de janeiro. Do mar, os resíduos seguem para as águas profundas, como mostra um estudo divulgado pela Oceana na Europa, que aponta: 99% do plástico que chega ao mar vai parar no fundo dos oceanos.

Impacto na vida marinha

As imagens chamam a atenção para o grande problema que é a poluição marinha por plástico. O estudo ”Um Oceano Livre de Plástico”, divulgado pela Oceana em dezembro passado, mostra que somente o Brasil polui os oceanos com 325 mil toneladas de lixo plástico por ano.

“Após ser descartado, o resíduo plástico percorre diversos caminhos até chegar ao oceano, onde impacta a vida de milhares de animais, desde zooplâncton a mamíferos e aves marinhas, muitas delas já ameaçadas de extinção”, afirma o diretor-geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni.

De acordo com a pesquisa da Oceana, 85% dos animais que ingeriram resíduos sólidos, inclusive plástico, são espécies ameaçadas de extinção. Entre elas estão a toninha, o boto-cinza, a tartaruga-de-pente, a tartaruga-de-couro, a tartaruga-oliva e as aves pardela-de-capuz, albatroz-de-nariz-amarelo e albatroz-real.

O estudo analisou o resultado de 29.010 necrópsias realizadas entre 2015 e 2019 em animais encontrados nas regiões Sul e Sudeste, dos quais 3.725 indivíduos apresentaram algum tipo de detrito não natural em seus tratos digestórios.

“A situação é muito grave. Além da vida marinha, também impacta milhares de pescadores e pescadoras que vivem dos recursos pesqueiros, sem falar na saúde da população que está ingerindo microplástico sem saber”, afirma Zamboni. “Nosso país é o maior produtor de plástico da América Latina e tem uma grande responsabilidade na promoção da sustentabilidade dos oceanos. Para isso, precisamos urgentemente de uma lei nacional que regulamente o uso de itens plásticos de uso único”, alerta o diretor-geral da Oceana.

Propostas da Oceana

Para reduzir a poluição marinha por plásticos, a Oceana apresenta algumas propostas. A primeira delas é reduzir a quantidade de plástico descartável e desnecessário produzido na fonte. Embora algumas cidades brasileiras estejam avançando com leis sobre o uso de descartáveis, ainda não há no país uma legislação nacional para regulamentar o uso de plásticos de uso único.

Por outro lado, as empresas precisam reduzir a quantidade de plástico e oferecer aos consumidores opções livres de plástico para seus produtos e serviços. “Sem mudanças imediatas e concretas, a quantidade de plástico no ambiente marinho triplicará nos próximos 20 anos”, destaca Zamboni.

A Oceana também propõe que sejam criadas Zonas Livres de Plástico. Essas zonas são áreas onde não são fornecidos, comercializados ou utilizados plásticos de uso único, podendo ser desde escritórios corporativos, aeroportos, bares de praia, até festivais, eventos e cidades inteiras. Essas iniciativas não precisam se limitar a áreas costeiras e podem ser implementadas pelas próprias comunidades, governos ou estabelecimentos comerciais, de forma individual ou por suas redes.

 

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